11 de maio de 2005

Caí como flor e se perde como dor


Como flor caí, como dor se desfaz esse desejo de saber viver. Sem saber se junta as verdades da vida que se jogam contra a mesa da cozinha procurando um pouco de água pura: quer se purificar. Ou como desejo que queima se submetendo a experiências, a procura de pão amanhecido e metaforicamente se rege e se ergue como fogo no fim do dia. Naquela hora não sabia o que dizer, faltou à voz, a boca secou, as mãos se paralisaram e os olhos se fecharam. Quis fugir para outro lugar qualquer onde ninguém achasse, só teu amor. Quis calar, como quem quer chorar sem motivo, quis rodar como roda-gigante, quis ser mais um, só mais um. Captei-me em várias freqüências e sem saber bebi de água já provada. Quis ter tudo, quis ter todo amor do mundo, toda piedade, toda felicidade, toda dor. Senti vertigem, busquei frases, faces, frascos mágicos, procurei nos contos outros encantos e achei em mim a fórmula perfeita de ser outro alguém forra dessa guerra. Quis eu ser mais uma mentira, mas só cabia as verdades. Fui em bares procurando um pouco de amargura e lágrimas esquecidas. De repente achei cacos de vidro: restos do meu orgulho mal dito, mal distribuído e desonrado.
Cantei em ruas escuras as vidas futuras, vinguei-me de minha hipocrisia, chutei maldizeres e busquei nos bares novos lares. Quis apenas sorrir, porque era mais um dia que passará, mais uma dor superada, mais uma hora a menos no inferno terrestre, um segundo a mais respirado. Senti nada, entrei em alfa.
Xinguei putas despidas do respeito e cobertas de forças ocultas. Briguei por vidas e mundos mais justos, fiz o que eles disseram que eu faria. Catei papel do lixo como se cata sonhos de mentes inocentes. Observei os olhos de todos aqueles que já beijei e já amei. Pulei o muro em busca de harmonia e sangue seco. Furei protocolos, rasguei cheques como se rasgasse vidas oprimidas. Cultivei pássaros como quem cultiva amor na porta de casa. Reguei os pés como se rega uma vida destruída, como quem não sabe o que lê.
E o que mais terei de ser, ver e viver para ser algo mais que esse universo falso e frio?Quis beber, me embebedar na sua saliva cheia de vida e queratina, chupar limão como se chupasse chocolate. Falei que não sei viver: não sei sofrer!
Aviso: Não sei viver!
Soube errar, mas sem perder a classe soube beber e nem por isso me embebedar de alccol sujo de pó de mármore. Senti formigar meus dedos calejados das verdades que guardavam. Olhei todas aquelas cartas, como quem olha ouro em mina. Jurei te amar como quem jura morrer e sem saber jurava mais ainda viver só para cumprir minha promessa de amar. Juntei restos dos desertos do meu peito destruído pelas falcatruas do Severino Cavalcante.
Também sei, sei que fui, que sou e que sempre serei: isso. Nada mais, nada a menos, apenas e só isso! Só essas falas toscas, esse rosto mal desenhado, esse corpo fora de forma, essa autoestima de gangorra e essa pele abstrata. Apenas mais um Só e desse Só não hei de passar, pois tão só também é esse meu Só.
E a conclusão que chego é que: Não passo de um Só nada no meio do grande Só de um tudo. Assim talvez faça algum sentido.