17 de outubro de 2007

(In)felicidade Clandestina

>>Escuta: Far Away Boys - Flogging Molly


Toda a minha beleza e possibilidades resumem-se as minhas frustrações diárias. Nem toda a observação do mundo me faria deixar de ser isso. Tudo o que sou. Agora eu posso sentir e deixo que você sinta também; que tudo irá permanecer igual, de alguma forma diferente. Não sei a primeira palavra que aprendi a dizer, nem ler, nem escrever. Não me lembro bem de muita coisa. Mas sempre estou esperando algo: minha vida, meus amigos, as atitudes internas e externas. Sempre estou esperando como um milagre semi-impossivel. Você me entende?
Eu fui deixando que tudo passasse lentamente por mim: sou fraca e não sei dizer não e sim. E todas as vezes que cantei pra dentro, com medo que os outros ouvissem, matava um pouco mais de mim. Não sou: estou. Não me ensinaram a amar, nem a chorar, mas sempre fiz questão de fazer essas duas coisas de forma excessiva. Comprei mentiras a fim de crer que comprava verdades feitas por mim. Olhei-as e desejei-as como uma amante secreta (talvez a seja). Todos os dias, um pouco por dia, morro, nasço, procrio e me despeço. Faço isso como se fosse algo natural do meu cotidiano. Mas sempre que me dou por conta disso e noto o quão absurdo isso pode ser me arrependo de ser eu e logo estou morta novamente.
Meu egoísmo tem cheiro de arrependimento e falta de leite materno: não sei ser amada. Quero apenas amar sem ninguém que possa me atrapalhar. Não aprendi a correr rápido, mas apenas andar para que assim minhas mentiras sempre respingassem em mim: me sujei muito.
Ainda vivo sem me sentir, ainda vivo por viver e por morrer. Ainda vivo para reviver, ainda sinto que quero viver por viver. Não escolhi ser assim, mas foi com o passar do tempo que tracei minhas rugas, meus motivos e minhas frases feitas. Foi diariamente que aprendi a fazer e desfazer. É difícil me dar com centenas de pessoas dentro de mim. Isso eu sei.
Pensar ou não pensar? Eis a questão.
Não pensa. Alberto Caeiro sempre teve razão: sempre foi um homem são. Sempre foi um dos meus ídolos: mais uma fantasia. Eu quero que sempre que lembrar de mim, lembre-se do meu sorriso torto, do meu nariz ligeiramente grande, dos meus olhos pequenos, da minha alma poluída e do meu olhar capaz de dizer tudo e nada ao mesmo tempo: sem piscar.
Não pisque, porque acaba.