22 de dezembro de 2007

Estou de partida, João

A vida que poderia ser e não foi
Os amigos que poderiam ser e não foram
O ar que poderia ser e não foi
A música que poderia ser e não foi

O meu repleto ditado de coisas claras
Que poderiam ser e não foram

Meu canto, meus dedos, minha letra
Tudo agora faz parte de mim
Tudo o que poderia ser e não foi
Tudo o que foi e poderia ter sido
Tudo o que não deveria ser e é
Tudo o que tudo diz ser e é

Antes fui pequena, agora sou mais velha,
Ainda jovem, porém.

Os fatos postos e escritos à mesa
São meros devaneios da vida
Que pudera ser e que não foi e que foi.

A parte disso,
Parto da vida sem mais o que esperar
Ou ter
Parto sem deixar casa,
Terra, navio ou cão
Parto para meu despertar
Parto para poder descansar

O que foi, foi
E o que há de ser não tem problema
Vou-me embora para qualquer lugar
Que me sirvam silêncio,
Poucas pessoas, comida farta que não engorde

Fico aqui sem ficar por aqui
Estou de partida

15 de dezembro de 2007

Sem cor nem chão

[sem revisão]



Pelas experiências não vividas, imagino as dos outros: é horrível. Quase que não durmo, nem como, nem vivo: só imagino. Em um mundo avesso aos meus critérios selecionados recrio passagens bíblicas dos seres humanos que me cercam e quanto mais próximos pior será. Não vou de branco pela rua, mas sim com todas as cores de forma desuni forme. A massa que me cobre é negra quase opaca que me envolve, não dia ou noite, é um tempo estranho a mim, é tempo. Minha imaginação dos fatos vai além, imagino todos os cenários, personagens e feições: é mais um pesadelo que começa. Faço de conta não saber o fim ou o começo, mas o sei. O meio, o meio é que não me sai da mente. Parece-me que é intrigante o fato, perturbada, repugna, não entendo, até pena sinto. Não precisava, foi desnecessário. Por que não em esperou? Então pronto, era só ter me esperado que nada houvesse de existir todos estaríamos bem, mas não. A vida não é assim, toma tua realidade como dada aceita a chama que arde na mente. O cérebro é mesmo máquina incessante que não se contenta com as desgraças. Imagina mais, vá além. O pior é que sei que quase sempre a imaginação é pior que o real. Não me contenho, quero, mas não consigo. A mente trabalha sozinha pode ser dia, noite ou tempo aquém de mim. Finjo não sabe de nada quando me distraio com outra coisa a fim de esquecer. Banal. Recurso mais que banal adotado por uma banalidade da vida: ela mesma.
Quando se nota a áporia puxa e dá comida pro bicho que cresce em mim, afim de que dessa forma, mais racional, consiga dar fim ao flingimento. É tarde, é cedo, a qualquer hora, qualquer pessoa, qualquer lugar. É mais que músculo involuntário é outra vida em mim com poderes próprios, os quais eu não posso suportar e conviver. O conflito do eu e o mim, ou o conflito do eu e o outro? Vai rápido, corre que quebro tudo o que sinto, não vejo como se passam as coisas, embora as veja dentro de mim. Erro e peco no meu português porque leio pouco. Mas tudo bem, já sei falar. Áporo mesmo, é ser eu dentro de mim sendo outro alguém fora do eu. Complexo não é o que digo, mas sim a máquina ativada na mente, essa mente alheia a mim que imagina as coisas sem que eu peça. É uma assassina em série que existe e eu nem sabia. É uma difamadora-usurpadora que existe e ninguém me contou.
Vou de cinza pela rua branca. Nada me olha, nada me quer ver ou ser. A mente se acalenta, perde força, quer desmaiar, abortar missão. Talvez seja uma sinapse acontecendo, ou o fim perto do meio. É o cabo do começo. Esfacelo-me. Tenho 11 dias para decidir, se viver é melhor que imaginar, se imaginar é pior que ser ou se ter é pior que tudo e viver não é ser nada.