29 de novembro de 2011

Só enquanto eu mentir

Gente que acha que tudo é pra ela, tudo é por ela, tudo é só dela. Se esquece que todos temos nossas próprias sensações, percepções, vontades, filosofias.

Quantas mentiras eu ouvi e você jurou ser verdade? Algumas delas logo depois você acabou reconhecendo outras, você sustentou e achou que eu acreditei. Porque se você sabe mentir, eu sei mentir em cima. Talvez isso até me faça mais babaca do que você, ainda assim eu faço. Porque eu não estou preocupada em achar a perfeição que eu nunca vou conseguir, tento obter o melhor sim, mas sem caretice. Por que você não larga a mão e vem viver? Você pode sentir tão mais do que sente e fica ai, preso nesse mundinho da fantasia da conspiração e das pessoas que te prendem em uma identidade que: qual sua identidade?

Eu nem acordei, levantei logo e fui fumar na sacada que piscava colorida. É natal, como será o natal? Será com você? Fiquei pensando e mal conseguia chorar, eu até queria, mas se não chorava: sinto mesmo tanto assim? Acho que não. Acho que não sinto muito. Se estou é porque quero, suporto porque quero, nem ligo. Ouvi música, e aparelhos eletrônicos não gostam muito de mim. Fumei outro cigarro, as luzes ainda piscavam e nenhum barulho, você não deu falta de mim. Assimilado isso, também não chorei. Voltei pra cama, você não se deu conta, você fez que não deu. Não chorei. Eu já chorei por você? Ou eu chorei por mim? Eu me cansei e fui embora: vitória. Saber a hora de ir vale mais do que saber a hora de chegar. Eu aprendi a hora de ir e não ter medo se é melhor, se está certo, se é mais confortável, me submeter pra quê? Vou embora, sem chorar, sem pensar duas vezes, eu não ligo.

Faço o que devo, vivo cada segundo e você só vai me ter nos raros momentos em que eu mentir pra você dizendo que me tem.

27 de novembro de 2011

Esse jogo não tem manual

Não se trata de um conto de fadas, por mais que quisermos, acreditemos não se trata. Não é por todo o meu esforço, por todo o seu esforço, pelo espaço de tempo e distância que transforma tudo em magia: não há magia. Não há facilidades, romance perfeito, falta de defeitos. É estranho pensar que há algum tempo que o indefinido não assombra mais do que o presente possível. A possibilidade de sentir tanto, que não faça bem. Mas já não sentimos tanto? Confesso que racionalmente acho uma falta de responsabilidade, mas eu não sou racional, nem 50%, nunca disse que era. Pelo contrário, eu valorizo sentir, sentir ao máximo os mais intensos dos sentimentos, sejam eles quais forem. Mesmo que seja dor, que seja a maior dor que já senti.
Tem uma parte de mim que vive de duvidar de tudo que pode ser bom, essa parte duvida de você, de tudo que é você e cada fresta que você abre, cada brecha, faz com que essa parte cresça, tome espaço. Mas eu, eu mesma, as minhas outras partezinhas, elas acreditam, elas compreendem, elas perdoam, elas vão indo... Como eu controlo tudo isso? Eu controlo? Eu posso, devo, é permitido, como faz? Tô zonza. Zonza de tudo, do bom e do ruim: intensidade que desnorteia. Será que o julgamento do que vale a pena, vale a pena? Será que prever o impossível é possível? Não creio nisso, por isso aposto fichas, faço tudo o que fiz, fiz tudo o que faço, mas não sei o que farei. Sei das coisas que preciso e me faltam, sei que sou viciada nas sensações, sei que quero te ajudar, porque nisso sou mais viciada que tudo.
Sendo assim, que encaremos e que não coloquemos em duvida de novo o futuro, o futuro sempre foi imprevisível, até para os que se vêem todos os dias, para todos. E porque não assumir esse presente? É que ele ainda tem cara de futuro, ele parece que chega nunca, fica zumbindo no nosso ouvido, deixando a gente assim chato, desnorteado, tonto, irritante, irritado. Talvez nunca tenha sido futuro, ou já não temos um passado? Se temos um passado tivemos um presente e tudo é agora mesmo. A gente se cobra tanto a exatidão impossível, as coisas são como temos, e temos isso, está bom? O que eu tenho está bom, mas o que tive, não está. 
E fico nessa ciranda, nessa gangorra de sentimentos e vou indo, indo, indo, carregada pela maré, quase que nem julgo mais. Só vou sentindo, tentando desvendar o que é, não sei o nome disso, não sei o nome, qual o nome? Você me cobra o nome disso e eu não sei o nome porque eu não te amo, eu não te odeio, eu não te adoro, eu não... Eu não sei. Só sei que quero você perto de mim, bem pertinho, até quando você me irrita, eu quero você bem pertinho. Mas ai, é que tem dia, que eu não sinto mais nada, sinto dor nem amor, nem pena, nem desprezo: fico quieta, boiando na superfície da maré. Corro para superfície para avaliar se não estou me perdendo, ainda não estou, sei disso, tive provas, estou aqui. Estou dentro da minha própria lógica, da minha filosofia, das minhas crenças. Só não, não faça isso, não me diga o que é melhor pra mim, ninguém pode saber o que é melhor pra mim, nem eu. Mas eu sei do que eu gosto e do que eu não gosto, não escolha por mim, você não tem esse direito, escolha por você. E então, você tem escolha? Acho que você está tão solto na maré quanto eu: não há escolha, ela não é nossa, é desse acaso, como sempre foi.
E eu aceito, você aceita?

13 de novembro de 2011

Das pessoas

Das pessoas que apanham e por isso batem
Das pessoas que se perdem no caminho
Com tantos espinhos
Ficam parecendo cacto:
Secos e cheio dos mesmo espinhos
Das pessoas que dizem muito
Falam demais
Fazem quase nada
Das pessoas que desistem
Partem
Deixam seus sonhos para trás
Das pessoas sem coragem
De dizer
Eu te amo
Das pessoas que tem medo
De qualquer coisa que as faça pensar sobre elas mesmas
Das pessoas com escudos
Escudos fixos
Porque bateram demais
Das pessoas que vivem de passado
E perdem o melhor do presente
Das pessoas que acham que tem menos do que tem
Das pessoas que vêem problemas em tudo
Das pessoas que se prendem no pequeno
Das pessoas que mentem pra si
E acreditam estar fazendo o melhor
Das pessoas que nunca arriscam
Se perdem dentro do metódico
Do perfeito
Do projetado
Das pessoas que sempre perdem a melhor parte
Porque se preocupam com as coisas erradas
E se escondem
Das pessoas que se escondem de tudo
De todos
E só se mostram para o superficial
Para o fútil
Para o limitado
Escondem-se nas cavernas
E quando vêem uma sombra lá fora
Isso deve ser mais perigoso que tudo
Das pessoas que nascem sabendo amar
E terminam sabendo julgar
Odiar
Negar
Correr
Das pessoas que eu contei pelo caminho
Já me tornei
Já deixei
Tanto a minha
Quando a dos outros
Das pessoas que prefiro nem conhecer
E se conhecer
Das pessoas que fiquem longe

Desencantamento do mundo

Quem você pensa que é? Com que direito você entra na minha vida manda e desmanda nas coisas que você não tem controle? Fui ali na rua, olhei para todos os lados, céu, chão, ar, pessoas e olha, será? Não sei se vale a pena, nada, nada sei se vale à pena, mas vou deixando. Uma percepção sobressai à outra e assim vai indo e vou deixando tudo se desenrolar. Nada perco, não perdi, não deixei, se não vive, não houve.
Eu só preciso de ar, de vento, muito vento sem maresia. Sentar, olhar ao redor: estou sozinha. Toda a minha tristeza com você se resume a própria tristeza de tudo. É teu desinteresse diário, é toda essa sua gostosura de ignorar que me desinteressa. Você quer mesmo isso? Me pergunto todos os dias e não é por simples insegurança, é por perceptível desinteresse permanente. Não sou interessante? Porque eu não sei se você sabe, mas eu posso partir, sumir, deixar de existir, eu juro que posso. Só gostaria que você me dissesse isso, se for necessário.
É que não sou turbulenta, não procuro briga, discussão, chororo: sou tão simplista que até perco a graça. Digo tudo o que sinto, se tenho um problema te conto e pronto, pronto. Se não tenho, não tenho e te faço sorrir, se eu quero ficar com você, acho justo que saiba. Pra quê complicar? E vou diariamente me perguntando sobre as complicações do seu desinteresse. 

Obrigada pela sua atenção. 
Formalmente, todas.

12 de novembro de 2011

Tempo, distância e desespero

Qual a medida suficiente para o amor, há medida? Posso ouvir Foucault gritando em meus ouvidos que não. Mas fique tranquilo, um tombo lá, outro acolá, a medida pode ser encontrada, a sua própria. Ouvir relatos, contos e causo, ainda é o melhor remédio para nossas neuroses, ainda é! Percebi que não sou tão neurótica, psicótica e nem a pessoa da menor autoestima do mundo: ganho nenhum.
Ainda me sinto culpada por tudo: por sentir saudade de mais, por as vezes simplesmente não sentir nada e outras vezes existir. Nunca tive que encarar distância física como obstáculo, sorte ou azar. Nunca tive que contar tanto com a sorte ou revés da vida e aonde vim parar? Minhas previsões aqui mencionadas estavam certas, tornei-me uma mulher segura com toda a irracionalidade da adolescência. Um pouco insensata, as vezes muito responsável, quase sempre só coração. Com esse coração aberto jogo tudo, o amor, a dor, a perda, as questões, os desgostos, as incertezas. Não tenho mais tanto medo do incerto, não se eu puder aproveitar antes de ele bater em minha porta.
Acho razoável que você parta, acho razoável você também não partir assim como também, acho razoável eu pensar minhas possibilidades. Saudade boa é aquela que se pode terminar e dor ruim é aquela que fica até você se acostumar: não quero me acostumar com a dor de ficar longe. Mas como disse, dentro disso tudo, é esperado que eu não me apegue tanto a isso, quero mesmo é te experimentar por completo, saborear cada parte, cada gesto, cada ausência. Arrependimento bom é aquele que quando provado nos agrada, fui te ver, sentir, ouvir e falar: gostei de quase tudo.
A perfeição é criada a partir das horas em que tudo fica calmo, sereno, tranquilo e incrivelmente belo. O tempo enfim, é o menor dos problemas e a saudade torna-se um membro permanente de carinho. Ter-te por perto pode até ser mais saboroso que ter-te de longe, mas ter-te de longe também tem seus encantos. Eu não presumo nada, não acho nada, não crio nada a partir desse presente que só é até agora ele mesmo, espero tudo. Espero calma com a minha saudade que gosto de regar todos os dias: estou viva. Gosto de simplesmente saber como é, eu tinha me esquecido como era, desacreditado e você, que tentou me fazer desacreditar de novo... Não, não sou fácil assim. Sou a primeira a sair de casa, a última a voltar e sou permanentemente amor.
           Se eu quisesse ser um muro, o seria. Se quisesse ser mais uma, a seria. Se quisesse ir lá e fracassar, eu também poderia. Eu quero, quero tanto, quero mais que tudo ser tudo, fazer tudo, porque, dentro das possibilidades do possível, quero todas as experiências, até as que não gostar. Quero-te assim, me irritando pra eu poder consertar, me bagunçando o coração pra eu ter o trabalho de reorganizar. Do todo pronto eu não gosto, o simples me espanta e me afasta. Quero toda a sua complexidade discutindo com a minha, seja perto, longe, juntinho ou abraçadinho.

11 de novembro de 2011

Há Dúvida?

O texto a seguir é de autoria própria baseado nas teorias Bergsonianas. Teve como base os livros de Henri Bergson: "O Pensamento e o Movente"; "Matéria e Memória", "A Evolução Criadora".

Há certeza? Certeza de que, do que, de quem? Talvez, só haja certeza da própria certeza? Definitivamente não. A certeza está ai, andando pela rua, é a duração e não o tempo. Mas é da certeza que se parte da dúvida? A dúvida é menos que a certeza? De que certeza é essa que falo e de que dúvida é essa que digo se não das totais. Tenho certeza que nunca comi bacon na vida até hoje, nunca comi. Mas compreendo nunca ter comido bacon porque nunca soube ter ingerido, ou por que tenho certeza a partir do momento em que nunca soube ter comido? A certeza tem a sua duração, ela existe enquanto conceito, entendimento humano, mas não como certeza absoluta, total. Ela só é certeza em sua duração de compreensão.
Pois, se a certeza existe enquanto duração, o que será da dúvida se não uma desconfiança da certeza? Eu posso ter duvida de que um dia eu tenha comido bacon sem nunca ter pensado se tenho a certeza de que não comi? Não. Porque meu raciocínio lógico foi treinado para antes ter certeza, antes da dúvida já há certeza e então, por que começar a duvidar? Por que interromper a duração da certeza? Porque essa certeza foi capturada, ou melhor, houve uma tentativa de captura da certeza e nesse momento, ela deixa de existir. Ao mesmo tempo que penso “eu nunca comi bacon”, penso na lógica de que “eu nunca comi bacon, que eu saiba”. Eu já amei, mas amei de verdade, o que é amor? - Penso eu. É uma rede fina, próxima, maleável que me leva à dúvidas infinitas a partir de certezas que tentaram ser capturadas, se entrelaçando e formando uma malha interligada.
A dúvida não é a duração, a dúvida é o rompimento da duração, a lacuna, uma falsa duração de certeza que logo se quebra. A dúvida é o prolongamento da certeza com capturas, ligações de certezas. Como uma linha, onde a linha é a certeza e os pontos amarrados para unirem-se e formar a linha, são as dúvidas. Embora ainda assim, a certeza pareça maior que a dúvida, por ser durável, ela é menor. A dúvida é mais que a certeza por desvelar novas certezas e novas dúvidas, é como um quarto espelhado por todos os lados, chão, teto, sem porta ou janela. A dúvida é que permite a duração da certeza e que se autopermite continuar a duvidar.