6 de fevereiro de 2008

São Teus



Ninguém disse que seria fácil ou difícil, isso ficou ao seu critério. Todos os dias são sentidos de formas diferentes e muitos de forma estranha. Nesses dias sinto falta de uma droga maior, talvez o ópio de Pessoa, não sei. Não acho bonito ser eu, ou se parecer com algo que careça eu. Não sei o que posso dizer quando você me questiona na minha imaginação: todos os dias sou entrevistada. Estou morrendo, mando um sinal, mas ele é em vão. O mundo parece não notar meu aviso de socorro. Talvez eu devesse mudar minha técnica. Ah mudo, mas as coisas continuam mudas. Pinto as unhas a fim de me sentir mais feminina, a fim de que elas não quebrem, a fim de que algo em mim possa ser notado. Eu não sou notada, exceto por mim.
Não sei me ver, não sei como me vejo. Já tantas coisas escritas; tanto tempo perdido; tanta saliva gasta; tanto amor esvaziado; tanto nada crescente. Eu sei o que mais quero, mas não sei como lhe dizer isso. É que me falta coragem, coerência e palavras: momentos, falta-me momentos.
Não dormi bem a semana toda, pensei, não quis pensar, tentei bloquear o que me é imposto. Não consegui. É uma falta de forças. Será o fim? Tenho tanto medo de estar louca, de ficar louca, dessas que mal pode se reconhecer no espelho e que serve apenas para ser piedade alheia. Tenho medo de ser coitada. Até meu medo está cansado de ser. Eu preciso dar um jeito, o quero fazer, mas não o acho, não o sei, não o entendo. Eu não quero, eu não suporto mais minha tristeza nata e meu medo de perder tudo, menos de perder a mim.