8 de novembro de 2010

Saudade.

Não há o menor sentido e explicação, embora haja inumeras contas prováveis que te levarão a um resultado nada exato e excelente. Eu não abandono, nem quando deixo. E por isso, as coisas foram ficando embaçadas, iguais ao espelho depois de um banho em uma noite fria. Depois disso, você apagou a luz do banheiro e saiu sem rastro. Eu fiquei, presa, embaçada no breu. Não fui, não voltei, fiquei, permaneci. Imersa no universo do inconstante, do paralítico, porque era incapaz de prosseguir os pensamentos, os sentimentos: apenas a loucura, essa prosseguia. Depois de algum tempo indeterminado, abri a porta do banheiro, vi em fim um feche de luz, a fumaça vazar, tive medo. Abri um pouco da janela e senti frio. Foi isso, frio, vapôr, feche de luz, breu e finalmente, solidão. Quantos passos restam? Tenho de percorre-los, tenho mesmo de continuar nessa trilha que não tracei? Devo mesmo ser a mesma? Devo, devo porque não sei, desconheço outra, na realidade, conheço muitas e nenhuma delas me agrada.

Finalmente abro a porta por inteiro, a luz não indica nada, não é nada, volto. O escuro, o desconhecido parece-me mais seguro, camuflado, escondido. Fecho a janela, não tenho com quem me acolher e sinto frio. O mais estranho é que na pele sinto um frio que queima, e no centro do peito um forte calor que congela o meu coração: não quero seguir, não quero ser assim. Enfim, levanto, destemida e saio daquele banheiro desconhecido em que você me convidou. Vou andando, não sei para onde, não sei porque, não sei por quem, não sei. Mas sei que vou ficar assim, permanecer os mesmos sentidos, vou amar sempre, tudo, todos. Saudade sim, que bom; tristeza tem de acabar.



27 de maio de 2010

Entre mim e Ele.

Você ainda tem o mesmo olhar, pode não parecer aos outros olhos, mas o fato é que sim, você ainda tem o mesmo olhar. Você ainda me olha com essa forma discreta de dizer “vem me ajudar”, essa forma de dizer “preciso de você”. E quando você me olha assim, com esses seus olhos lindos, azuis que brilham e ofuscam a verdade, sinto a conexão. Porque a verdade é que você ainda é aquele menino, que só queria fazer o que mais gosta. Você conseguiu. Você faz o que mais gosta, você é reconhecido por isso, talvez nem tanto quanto mereça, mas é. Mas e então, ainda assim, você me olha com esse seu jeito dizendo “olha, eu sou tudo isso, gosto disso, mas não me deixa só porque eu ainda tenho medo do escuro, não tenho respostas, e ainda não vivi, e pareço não poder, viver o simples.” Com seu olhar cansado, com tudo isso que vejo, todo esse seu jeito lindo de me mostrar as outras parte de você. Sabe que, não vou te deixar só. Vou te abraçar, sem dizer nada, depois, te olhar e completar, abraçar sua alma para que não mais se sinta sozinho, vazio e sem respostas. Percebo que o tempo te fez mais triste, o que houve? Você não imagina, nem desconfia o quanto gostaria de eliminar isso de você. Mas você ainda não me conhece, nem me imagina, mas eu te amo, te conheço, te quero, sou sua desde o primeiro instante. Te espero, não, não te espero, vou ao teu encontro e quando nos encontrarmos, você vai saber quem sou eu: um olhar.

7 de maio de 2010

branquinho no banquinho.

O que importa é que daí, eu posso assistir Glee, cantar, chorar, gritar, aumentar o som, conversar dentro de mim, pensar o que quiser, como quiser. Porque tudo pode ter limite, a liberdade pode não existir, mas dentro de mim, tudo o que quiser ou deixar, vai existir transbordar, viver, reviver e se criar.
É que é assim, por mais, mais que eu queria sentir os outros, porque de mim já estou cheia, adoro ficar de papo com meus outros heterônimos e brincar de sonhar e ser feliz sabendo que esse mundo não existe. E mentir para tudo dentro de mim. Parar cenas e fotografá-las: é o que faço quando fico sozinha. Quando me esqueço e sou só ser que vive e puro "it". Esse "it" é de viver a vida assim, aberta, simples, sem medo, preconceito e paranóias. Mas é que também às vezes tudo isso vem junto, porque também existe o meu outro lado, meio louca, meio canalha, meio mentirosa, meio fraca, meio mal educada, meio assassina, meio tudo de ruim que a sociedade prega. Porque no fim, não quero ser nem tudo de ruim, nem tudo de bom, quero ser o livre, como sou dentro de mim. Quero ser "it" puro dentro dos livros e músicas. Quero só ter o presente como lembrança e sentir todas as partículas da vida me tocar. É que isso não é poesia, isso é minha vida. Meu jeito de dizer: não façam isso. Meu jeito meio Álvaro de Campos de dizer "Não me peguem no braço! Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho." É meu jeito de ser sozinha no coletivo do mundo de possibilidades infinitas dentro de mim, da forma que quiser ser, na hora que quiser e o mais importante, para quem eu quiser: ser.

8 de fevereiro de 2010

8 anos blogando.

Este blog é para ninguém e se você está lendo agora, deve ou deveria saber. Tenho blog desde que minha mãe comprou computor pra casa. E eu tinha que usar internet discada. Isso foi em 2002. Desde então tenho blog. Já tive em VÁRIOS lugares, mas os mais duradouros foram no weblogger e aqui, no blogspot. No início, eu era tão viciada, que aprendi a mexer no meu próprio layout do blog e vivia mudando várias coisas. Hoje não me pergunte nada, porque eu não me lembro de mais nada dessa linguagem nerd que deixei para trás.

Eu sei que na semana do meu 21º aniversário de vida, eu tento relembrar quase 10 anos publicando minhas babaquices e proezas na internet. Escrevo desde os 11 anos. Claro que escrevo muito antes disso, digo escrever com consciência de querer publicação, ou desabafo pessoal. Enfim. Comecei escrevendo poemas quando encontrei perdido em casa, um livro comemorativo do jornal “Folha de São Paulo” reunindo os mais famosos poemas de Vinicius de Morais. Eu até concordo que Vinicius de Moraes não é literatura para criança de 11 anos, mas eu li e AMEI. Desde então, defendo sempre que posso esse “poetinha”. Mas continuando a minha história, foi então, depois de ler o grande poeta, que eu comecei a escrever poemas. Que, aliás, foram todos perdidos quando minha mãe, sem me consultar, jogou fora meu fichário da 5ª série. E eu chorei muito. Eu só me lembro que todos os poemas falavam de amor. Depois disso, ainda antes do blog, mantive minha dieta à base de poemas, mas comecei a ler também outros poetas. Só sei que quando fiz meu primeiro blog, com 13 anos, não publicava poemas ou os textos que eu havia acabado de começar a escrever. Eu falava de como eu odiava a minha vida, acontecimentos do dia e música. Cheguei até, em um dos meus blogs, a ter um layout do Kurt Cobain. Só aos 15 anos, quando li meu primeiro livro inteiro de gente grande e sem ser de poemas, passei a escrever no blog o que eu já escrevia há algum tempo, mas tinha a MAIOR vergonha de publicar. Esse livro que fez com que eu tomasse coragem foi, nada mais nem nada menos, que “Água Viva” da mulher que eu mais admiro no mundo, Clarice Lispector. Foi quando eu li esse pequeno livro, que entendi que o tipo de forma que eu uso desconexa e transparente da alma, era literatura. Claro, não estou comparando meus textos ao da Diva. Jamais. Desde então publico neste mesmo blog um misto de tudo o que sempre fiz nos blogs. Poemas + Diárias + estiloclariceindescritiveldaalma.

É que quando sou eu que escrevo, não sou eu quem falo, só escrevo.
Porque quando junta Vinicius de Moraes, Ramones, Nirvana, Clarice Lispector, Riot Grrrl, Johnny Cash, Mia Couto, mais muita futilidade para conseguirmos levar a vida, dá em mim. Eu sou tudo de intenso que tenta ser o equilíbrio, mas se perde na mentira dos outros, porque verdade, é só a nossa, a de cada.

Hoje, não escrevo para mais ninguém, talvez um dia volte a escrever. Hoje, só escrevo para mim. Para eu saber que escrevi e não corro o risco de perder uma das poucas coisas que há de bom em mim.

Obrigada a quem ler.

4 de fevereiro de 2010

tempo.

“E o bom e velho gosto de romance antigo, é sempre bom de recordar”

Sinto saudades de tantas coisas, tantas pessoas, tantos cheiros, tantos sentidos. Queria tanto ter dito, ter gritado, ter beijado, ter sacudido. Fiz, fiz muitas cosias, fiz tudo o que fui capaz naqueles momentos, muitas vezes, até fui além. Mas entendo, entendo que hoje não tenho mais medo, mais vergonha. Mas se eu ainda assim pudesse reencontrar algumas pessoas, perguntar os “porquês”, se....

Não sei se nasci para fazer parte de outra vida, às vezes parece que essa minha já são tantas, tantas que será impossível fazer parte de outra, viver mais uma, ser o que outra vida quer. Complexo. É difícil assumir algumas coisas, como sei que é difícil para algumas pessoas terem de me ver, é como se elas se re-vissem.

Hoje, do que mais sinto falta é de tempo, tempo para me viver. Há muitas coisas dentro de mim ainda a serem vividas e para isso, só preciso de tempo, é só do que preciso.

Um dia, um dia serei essa, essa ai. Não sei quando, como, onde, mas serei. Me falta, tempo.

Talvez eu vá, e não volte.