31 de agosto de 2011

Abriu

Abriu os olhos, o corpo grita quando não queremos escutar nossos instintos mais derradeiros, é hora de parar. Respira fundo, olha ao redor, que rotina é essa? E os meus amigos? Por que parei de dormir? Cadê a grana? Cadê minha vida, o que sempre me caracterizou? Onde vim parar? A viagem foi boa, as descobertas interessantes, as sensações indescritíveis. Foi bom. Tão bom é voltar, como se volta pra casa em um dia muito cansativo, depois de uma viagem longa: só quero a minha cama, meu edredon, meu travesseiro, meu ursinho de pelúcia. 
O meu corpo gritou, gritou meu nome bem alto dentro de mim mesma com tom de quem pergunta, me procurava e eu escutei, só demorei a responder. Mas respondi, agora eu respondi, agora chegou.
É uma nova versão, nem a de antes, nem a de ontem, nem a de criança, é nova. É essa nova, precisa de um corte novo de cabelo, talvez uma cor diferente? Precisa de roupas, coisas, pessoas, janelas: tudo novo. Eu gosto do novo, seja bem vindo.

28 de agosto de 2011

Definindo o indefinido: pode.


Desde de muito nova acho muito chato o ato da definição, eu não posso simplesmente ser e não ser de forma coerente? Sabe como funciona? É muito simples, é só você dizer que para tal situação você não concorda e para outra sim, não pode? Todo mundo faz isso. Às vezes eu penso que só eu não posso mudar de opinião, então temos de ser fixos? Só me irrita a mudança de opinião quando ela não é assumida, onde está a coerência

Você não disse “x” ontem e hoje disse “y”? Não. (????????????????????)
o.O

Indefinido

Forte, fraco, o que é tudo isso mesmo? Fazer ciências sociais é deixar de ser tolerante com a intolerância e passar a ser intolerante com a intolerância. Para os que percebem isso: exercitar a tolerância com intolerantes. Nossa vida toda é assim, uma eterna construção da descontrução e reconstrução da contrução e eu estou pirando! Respiro. Ufa, quase me sufoquei. Tem gente que pensa que eu nunca choro, outros acham que eu nunca falei sério na vida, tem gente que pensa que TODAS as palavras que eu digo são irônicas e no fim disso tudo, desculpe, tudo isso é verdadeiro e falso: ninguém é, ou pode ser TÃO definido, parem de definir!

Espírito Cristão-Social-Brasileiro

Nunca saí muito bem na foto, não costumam me amar de cara, mais fácil me odiarem, mais fácil acreditarem em coisas opostas ao que sou. Dizem que a culpa é minha. Acho fácil culpar os outros, mas é engraçado como as pessoas pensam que eu que as culpo: eu peço tantas desculpas, que esqueço de dizer obrigado. Desculpe. É engraçado tentar fazer o caminho inverso do que sempre me ensinaram, minha psiquiatra e meu analista pedem para eu ser menos boazinha, e eu deveria. Não acho que isso me torna melhor, não mesmo, acho que isso me torna uma babaca manipulada por um espírito cristão-social-brasileiro: parabéns!

Típico


Nunca foi tão difícil que fizesse que tudo se tornasse impossível, e nunca foi tão fácil que eu não precisasse reclamar. Perdi alguma coisa no caminho? Me perdi no caminho? Não. Nada se perdeu. Somos como as culturas, mesmo que depois de mortos todos os integrantes de uma sociedade, essa cultura jamais é morta, uma vez que houve contato com outra cultura ela irá se juntar, agregar, prosseguir de forma diferente. Nós não perdemos nada no caminho, nunca. Nos tranformamos em coisas diferentes, pessoas diferentes, mesmo que tenhamos atitudes opostas ao do passado, aquela de outrora não foi perdida, mas mudada, tranformada e está lá, em algum canto contida. Quantas vezes me transformei? Cortei os cabelos, tingi, mudei de cores de roupas, modelos, vocabulários, perspectivas, sonhos, tudo. E que bom. É claro que sei que a maior parte das pessoas não viveriam como eu vivo, não seriam tão intensas, nem tão insanas, mas eu gosto. Acho que lá no fundo de mim gosto desse monte de doenças que fui acumulando, mas também odeio. Típico.


3 de agosto de 2011

Você nem viu

Não é mais dia, aliás, não me acostumei de novo com a luz do dia, ainda gosto dele, mas a luz me ameaça. Disseram-me que você vai bem, a vida continua, talvez um pouco mais parada, talvez um pouco mais fácil, talvez com mais dinheiro. Ouvi dizer que o desânimo continua você ainda é o que eu conheci, a não ser comigo. Hoje já faz quase um ano, e nada se resolveu. Permanecer a mesma decisão, não pareceu uma resolução, pelo menos eu não sinto assim. Talvez agora você seja mais feliz, tenha mais tempo para você, e possa usar e comer tudo o que quiser. Agora você não precisa ser mais coerente, você pode voltar a odiar o seu irmão e não reconhecer o valor da sua família. Talvez, agora você seja tudo aquilo que desejou, mas eu não compreendi: não que isso faça com que eu me sinta culpada.


A vida está diferente, ainda luto para tentar assumir algumas facetas, as dores são as mesmas, mas me sinto diferente. Tenho novas preocupações, perspectivas, interrogações e uma calma inquietude. Quando me lembro de você, não há nada claro, é como uma morte: não me lembro bem do seu rosto, nem de momentos longos, mas choro. Você deve pensar como o resto do mundo, que chorar quer dizer uma única coisa: fraqueza. Para mim, chorar quer dizer uma porção de coisas impossíveis de serem definidas.

Faz quase um ano que eu já sabia, fazem muitos mais que eu pensei, planejei, ensaiei diversas vezes. Às vezes penso que de verdade, jamais saberei se foi bom ou ruim, acho que foi bom e ruim ao mesmo tempo de forma diferente do que seria. Quero que saiba que não te culpo, há uma mágoa imensa e não nego, mas não culpo. Ainda no fim, olho para todo mundo e vejo um animal que está ali, e enquanto vivo, acerta, erra, magoa, e é estranho: eu também fiz muito disso tudo.

Hoje em dia eu cuido da minha pele, passo protetor solar, me maquio melhor, voltei a ter cabelos curtos, escuros e lisos. Ganhei novas marcas, passei por novas doenças, conheci lugares novos, experimentei novas comidas, conheci pessoas de formas tão estranhas que nem eu mesma acredito. Sou mulher. Ainda feminista, mais autônoma, mais preguiçosa e com mais vontades. Aprendi a me amar, me achar bonita e perceber como me enganei ao meu respeito.

Você provavelmente nunca leu nada do que escrevi, talvez permaneça mudo até a minha morte, fique invisível até quando eu agonizar de dores: irônico. É uma triste saudade do que foi, do que não foi e do que eu deixei de viver em todos esses anos. Nunca vou saber e é inútil imaginar o inimaginável. Espero que um dia você tenha o que precisa para poder falar comigo, palavra que for, da forma que for. É porque às vezes tenho a sensação de loucura, como se mais ninguém tivesse te conhecido e eu tivesse imaginado tudo, sentido, e você nunca existiu: preciso saber que não estou louca.


Enquanto isso, tudo segue, da forma que é, da forma que for... tudo segue. Talvez eu morra, talvez você morra, talvez eu case, talvez só tenha uma filha para chamar de minha. É, acho que foi isso, acho que eu entendo o que você quis dizer com “cobrança”, eu me sinto assim e tenho horror que as pessoas depositem suas esperanças em mim, pesa muito, eu não sabia.


Boa casa, boa família, boa saúde, bom dinheiro.