20 de julho de 2007

Eternidade

Como o céu que vai do laranja ou azul mais escuro beirando o negro. Eu vu tentando me ajustar a vida que não em pertence. Vou buscando caminhos e porquês para que tudo seja mais calmo. E não é por não saber as resposta que deixo de me questionar. Todo o ser humano é feito de coisas e mais coisas. É feito de tudo e nada.
Quando eu era bem pequena e brincava na rua eu me sentia a dona da rua, me sentia dona de mim.Agora com quase 65 anos, me sinto dona de um apartamento e nada mais. Apenas sinto o vazio e o peso dos meus 65 anos. Vou dizer com clareza, maior que a de antes, que sempre que seguro mais um lágrima que se joga dos meus olhos, eu sei que mato em mim mais uma Clarice.
Depois de tantos anos a única coisa que ainda me deixa nervosa ao ver são os livros. Fico observando a minha pequena biblioteca particular cheia dos livros que admiro e gostaria de ter escrito. Fico-os fitando com orgulho por serem meus e com raiva de mim por não estar ali na estante junto a eles. E em cada instante que isso ocorre, mais uma Clarice morre dentro de mim.
Já são 70 anos e ainda vivo. Nunca pedi para passar dos 60 e já estou com 70. Nunca rezei para que Deus me desse mais tempo: deve ser por isso que ainda vivo. Acho que talvez ele esteja esperando meu pedido de desculpas por todos esses anos de negligência: ele que espere deitado.
Nesses meus 70 anos vi e vivi o mundo da imaginação e realidade-imaginária. Fiz parte da geração que ajudou a destruir com orgulho e cautela o seu redor. Faço parte de um time que foi engolindo pouco a pouco cada gota filha que restava. Eu fiz parte dos últimos seres que viram uma lâmpada ascender, faço parte da última parte de mim.
É só no fim que voltamos às origens. É uma pena que tenha de se esperar o fim, eu quis tanto isso no começo.
Hoje, muda e falida, sei que quando morrer a vida acaba e com ela, eu junto irei. - Será o meu melhor sono – eu que nunca dormi o quanto desejava. Logo eu meio Clarice meio Lispector que perdi os dedos na guilhotina por contar ao coração sobre a alma que ela não existia. Eu que fui queimada pelo meu padre predileto por ler, ler, ler, ler, ler. Eu que junto ao mundo gritei socorro em 1970 e só chegou reforços no próximo século, sei o quanto ainda dói viver. Sei.
E foi assim que descobrir que os anos não são contados através da nossa data de surgimento prevista, e sim, por saber o que deve ser feito e fazer. Por também saber o que deveriam ter feito e não fizeram. Por compreender todos os erros antigos, cometidos ou não, e não mais cometê-los. Nossa idade é contada de pai pra filho e não por anos.
Assim que morrer, peço que me deixem do jeito que estiver. Que fique intacta do jeito que sou. Se a vida já não existe mais, se o que conheço e reconheço como vida já não mais existe: que queimem os livros e folhas de papel e que todas as máquinas de escrever e canetas sejam afogadas; porque eu já não me dou mais pela a falta de tais instrumentos. Se não posso contar a vida, porque ela já não mais existe; se só posso contar da morte, que nunca mais conte sobre nada. A única habilidade que tenho, o único desejo que me motiva, é contar as utopias. Se nem isso posso mais, que me deixem como estiver, queimem e afoguem o que tiver de ser. Eu já não sou mais: nem animal e muito menos, racional.



>>Escuta: Tears and Rain - James Blunt

14 de julho de 2007

Abre - Olhos

>>Escuta: Wake up Alone - Amy Wine House
















Não é por achar o mundo errado
Não é por discordar das coisas serem do jeito que são
Mas é por saber
Que tudo o que mereço
Não receberei em vida
Nunca sentirei o que mereço

É por saber que os bons morrem cedo
(O que é muito bom
Eu bem sei)
É por ter a consciência de que sou mais um gênio da miséria
E que se for para ser alguém
Serei um cadáver com medalhas

Mas o difícil é me convencer
Todos os dias
Que devo viver
Devo viver para morrer
E devo morrer para ser
Alguém a que as pessoas respeitam
E ainda mais
Alguém a fazer a diferença

Talvez eu esteja embriagada de filmes
E vivo um
Talvez esteja debulhada em livros
E seja um
Mas zero, por cento de alguma coisa
É porque serei
A verdadeira Inês de Castro