22 de dezembro de 2007

Estou de partida, João

A vida que poderia ser e não foi
Os amigos que poderiam ser e não foram
O ar que poderia ser e não foi
A música que poderia ser e não foi

O meu repleto ditado de coisas claras
Que poderiam ser e não foram

Meu canto, meus dedos, minha letra
Tudo agora faz parte de mim
Tudo o que poderia ser e não foi
Tudo o que foi e poderia ter sido
Tudo o que não deveria ser e é
Tudo o que tudo diz ser e é

Antes fui pequena, agora sou mais velha,
Ainda jovem, porém.

Os fatos postos e escritos à mesa
São meros devaneios da vida
Que pudera ser e que não foi e que foi.

A parte disso,
Parto da vida sem mais o que esperar
Ou ter
Parto sem deixar casa,
Terra, navio ou cão
Parto para meu despertar
Parto para poder descansar

O que foi, foi
E o que há de ser não tem problema
Vou-me embora para qualquer lugar
Que me sirvam silêncio,
Poucas pessoas, comida farta que não engorde

Fico aqui sem ficar por aqui
Estou de partida

15 de dezembro de 2007

Sem cor nem chão

[sem revisão]



Pelas experiências não vividas, imagino as dos outros: é horrível. Quase que não durmo, nem como, nem vivo: só imagino. Em um mundo avesso aos meus critérios selecionados recrio passagens bíblicas dos seres humanos que me cercam e quanto mais próximos pior será. Não vou de branco pela rua, mas sim com todas as cores de forma desuni forme. A massa que me cobre é negra quase opaca que me envolve, não dia ou noite, é um tempo estranho a mim, é tempo. Minha imaginação dos fatos vai além, imagino todos os cenários, personagens e feições: é mais um pesadelo que começa. Faço de conta não saber o fim ou o começo, mas o sei. O meio, o meio é que não me sai da mente. Parece-me que é intrigante o fato, perturbada, repugna, não entendo, até pena sinto. Não precisava, foi desnecessário. Por que não em esperou? Então pronto, era só ter me esperado que nada houvesse de existir todos estaríamos bem, mas não. A vida não é assim, toma tua realidade como dada aceita a chama que arde na mente. O cérebro é mesmo máquina incessante que não se contenta com as desgraças. Imagina mais, vá além. O pior é que sei que quase sempre a imaginação é pior que o real. Não me contenho, quero, mas não consigo. A mente trabalha sozinha pode ser dia, noite ou tempo aquém de mim. Finjo não sabe de nada quando me distraio com outra coisa a fim de esquecer. Banal. Recurso mais que banal adotado por uma banalidade da vida: ela mesma.
Quando se nota a áporia puxa e dá comida pro bicho que cresce em mim, afim de que dessa forma, mais racional, consiga dar fim ao flingimento. É tarde, é cedo, a qualquer hora, qualquer pessoa, qualquer lugar. É mais que músculo involuntário é outra vida em mim com poderes próprios, os quais eu não posso suportar e conviver. O conflito do eu e o mim, ou o conflito do eu e o outro? Vai rápido, corre que quebro tudo o que sinto, não vejo como se passam as coisas, embora as veja dentro de mim. Erro e peco no meu português porque leio pouco. Mas tudo bem, já sei falar. Áporo mesmo, é ser eu dentro de mim sendo outro alguém fora do eu. Complexo não é o que digo, mas sim a máquina ativada na mente, essa mente alheia a mim que imagina as coisas sem que eu peça. É uma assassina em série que existe e eu nem sabia. É uma difamadora-usurpadora que existe e ninguém me contou.
Vou de cinza pela rua branca. Nada me olha, nada me quer ver ou ser. A mente se acalenta, perde força, quer desmaiar, abortar missão. Talvez seja uma sinapse acontecendo, ou o fim perto do meio. É o cabo do começo. Esfacelo-me. Tenho 11 dias para decidir, se viver é melhor que imaginar, se imaginar é pior que ser ou se ter é pior que tudo e viver não é ser nada.

17 de outubro de 2007

(In)felicidade Clandestina

>>Escuta: Far Away Boys - Flogging Molly


Toda a minha beleza e possibilidades resumem-se as minhas frustrações diárias. Nem toda a observação do mundo me faria deixar de ser isso. Tudo o que sou. Agora eu posso sentir e deixo que você sinta também; que tudo irá permanecer igual, de alguma forma diferente. Não sei a primeira palavra que aprendi a dizer, nem ler, nem escrever. Não me lembro bem de muita coisa. Mas sempre estou esperando algo: minha vida, meus amigos, as atitudes internas e externas. Sempre estou esperando como um milagre semi-impossivel. Você me entende?
Eu fui deixando que tudo passasse lentamente por mim: sou fraca e não sei dizer não e sim. E todas as vezes que cantei pra dentro, com medo que os outros ouvissem, matava um pouco mais de mim. Não sou: estou. Não me ensinaram a amar, nem a chorar, mas sempre fiz questão de fazer essas duas coisas de forma excessiva. Comprei mentiras a fim de crer que comprava verdades feitas por mim. Olhei-as e desejei-as como uma amante secreta (talvez a seja). Todos os dias, um pouco por dia, morro, nasço, procrio e me despeço. Faço isso como se fosse algo natural do meu cotidiano. Mas sempre que me dou por conta disso e noto o quão absurdo isso pode ser me arrependo de ser eu e logo estou morta novamente.
Meu egoísmo tem cheiro de arrependimento e falta de leite materno: não sei ser amada. Quero apenas amar sem ninguém que possa me atrapalhar. Não aprendi a correr rápido, mas apenas andar para que assim minhas mentiras sempre respingassem em mim: me sujei muito.
Ainda vivo sem me sentir, ainda vivo por viver e por morrer. Ainda vivo para reviver, ainda sinto que quero viver por viver. Não escolhi ser assim, mas foi com o passar do tempo que tracei minhas rugas, meus motivos e minhas frases feitas. Foi diariamente que aprendi a fazer e desfazer. É difícil me dar com centenas de pessoas dentro de mim. Isso eu sei.
Pensar ou não pensar? Eis a questão.
Não pensa. Alberto Caeiro sempre teve razão: sempre foi um homem são. Sempre foi um dos meus ídolos: mais uma fantasia. Eu quero que sempre que lembrar de mim, lembre-se do meu sorriso torto, do meu nariz ligeiramente grande, dos meus olhos pequenos, da minha alma poluída e do meu olhar capaz de dizer tudo e nada ao mesmo tempo: sem piscar.
Não pisque, porque acaba.




22 de setembro de 2007

É Tempo / Não Faz Assim

É uma vida, é um tempo, um tempo indeterminado que eu não sei contar. É uma força, um fato, um carro, um pasto. Passa. Eu falo da vida, da morte, de Maria e Alfredo. Falo das casas, das cascas, dos escritores, da escrita e de mim. Falo das coisas como são, como deveriam ser e como nunca serão. Falo de como não sei dizer o que gostaria.
Não falo das coisas pra mim ou por mim: sou as coisas.
Num círculo de fogo vicioso eu vivo sem saber se vivo ou finjo. Falo, faço, canto, respiro e parto.
Vomito de bile, pasto seco, mundo curto, gente curta.

“É tempo de partido
É tempo de homens partidos”

Falo e me calo. Como recorte de jornal: sou. Re-fabrico e re-edito o dantes dito. Sou reprise repetida dos meus eus oblíquos. Me fito de lado, tiro foto, vejo o perfil. Saio: a boemia não é tão amiga. Eu gosto é de gente pouca, fala baixo que criança dorme dois continentes depois. Falta água lá, sobra aqui: falsa ilusão.
Escrevo o dantes lido. Não sou escritora de fato, só reproduzo o meio. Reproduzo minha síntese. Sou, estou e escrevo o meu meio, todas essas minhas horas e minutos.

“Meu partido,
É um coração partido”

Falta saliva para gritar
Falta oxigênio para sintetizar
Inspiro
Unnnnnn
Expiro
Uuuuuuu:
Fico com dor de cabeça
O mundo gira
As vacas são mudas
O dia é curto
E ninguém liga

Passo, repasso, revejo o tempo e perco mais: não crio mais nada. Nada se cria. Original em mim só a cópia. A cópia que ninguém leu os originais. Me asfixie, me fure, me machuque. Me pegue forte, me arraste, me chupa, me mata. Diz que me odeia e que me mata se eu piscar.

-Sussurra, fala baixo
-Quero gritar mulher, você não presta. Merece mesmo é morrer!
-As criança dorme, não grita. Me bate, me mata, mas não grita
-Eu grito porque você é uma vaca
-Não grita que só eu preciso ouvir, as criança não
-Cala a boca muié! Agora você vai aprender a me respeitar!

O mundo não quer ser concertado, mas eu não quero que se desconserte mais. Não mente que é feio. Não mente. Não me diga mais verdades porque dói. Não morre que machuca. Não transa que mata. Não xinga que é falta de educação. Fica mudo mulato burro. Fica mudo mulher feia e pobre. Fica muda loira gostosa. Fica mudo, criado mudo, muda a muda. Não mundo, não muda.
Abafa o bafo seco de álcool do mundo. O mundo quer álcool, agora todo mundo quer. Me dá mais, me dá mais, me sacia. Me dopa, me joga: quero mais álcool.

O mundo quer álcool
Todo mundo quer álcool

O tempo é de nada. Pasmes. É tempo de piada maldosa e fútil, tempo de contar moedas vergonhosas. Tempo de mísseis, terror, terror, terror. Contei pra você que mais um país foi invadido você nem ligou. Contei das flores mortas que nasceram, ninguém leu. Pó de todo o tipo: pó cinza, pó branco, pó preto, menos pó marrom, esse não é visto. É tempo de rir do outro e não cuidar de ti. É tempo de se cortar e dizer que foi o outro. Não faz assim homem, não faz assim ser humano, não faz assim. Te ajuda e não reza. Se cala e não reza. Não chora por machucado de moto, chora por teus irmãos. Não faz assim mulher, não faz assim ser humano: não segrega, não dissipa, não faz assim. Não mata seu próximo como forma de matar você: inconsciente. Não faz assim, não seja assim: vá além, seja Deus.

20 de julho de 2007

Eternidade

Como o céu que vai do laranja ou azul mais escuro beirando o negro. Eu vu tentando me ajustar a vida que não em pertence. Vou buscando caminhos e porquês para que tudo seja mais calmo. E não é por não saber as resposta que deixo de me questionar. Todo o ser humano é feito de coisas e mais coisas. É feito de tudo e nada.
Quando eu era bem pequena e brincava na rua eu me sentia a dona da rua, me sentia dona de mim.Agora com quase 65 anos, me sinto dona de um apartamento e nada mais. Apenas sinto o vazio e o peso dos meus 65 anos. Vou dizer com clareza, maior que a de antes, que sempre que seguro mais um lágrima que se joga dos meus olhos, eu sei que mato em mim mais uma Clarice.
Depois de tantos anos a única coisa que ainda me deixa nervosa ao ver são os livros. Fico observando a minha pequena biblioteca particular cheia dos livros que admiro e gostaria de ter escrito. Fico-os fitando com orgulho por serem meus e com raiva de mim por não estar ali na estante junto a eles. E em cada instante que isso ocorre, mais uma Clarice morre dentro de mim.
Já são 70 anos e ainda vivo. Nunca pedi para passar dos 60 e já estou com 70. Nunca rezei para que Deus me desse mais tempo: deve ser por isso que ainda vivo. Acho que talvez ele esteja esperando meu pedido de desculpas por todos esses anos de negligência: ele que espere deitado.
Nesses meus 70 anos vi e vivi o mundo da imaginação e realidade-imaginária. Fiz parte da geração que ajudou a destruir com orgulho e cautela o seu redor. Faço parte de um time que foi engolindo pouco a pouco cada gota filha que restava. Eu fiz parte dos últimos seres que viram uma lâmpada ascender, faço parte da última parte de mim.
É só no fim que voltamos às origens. É uma pena que tenha de se esperar o fim, eu quis tanto isso no começo.
Hoje, muda e falida, sei que quando morrer a vida acaba e com ela, eu junto irei. - Será o meu melhor sono – eu que nunca dormi o quanto desejava. Logo eu meio Clarice meio Lispector que perdi os dedos na guilhotina por contar ao coração sobre a alma que ela não existia. Eu que fui queimada pelo meu padre predileto por ler, ler, ler, ler, ler. Eu que junto ao mundo gritei socorro em 1970 e só chegou reforços no próximo século, sei o quanto ainda dói viver. Sei.
E foi assim que descobrir que os anos não são contados através da nossa data de surgimento prevista, e sim, por saber o que deve ser feito e fazer. Por também saber o que deveriam ter feito e não fizeram. Por compreender todos os erros antigos, cometidos ou não, e não mais cometê-los. Nossa idade é contada de pai pra filho e não por anos.
Assim que morrer, peço que me deixem do jeito que estiver. Que fique intacta do jeito que sou. Se a vida já não existe mais, se o que conheço e reconheço como vida já não mais existe: que queimem os livros e folhas de papel e que todas as máquinas de escrever e canetas sejam afogadas; porque eu já não me dou mais pela a falta de tais instrumentos. Se não posso contar a vida, porque ela já não mais existe; se só posso contar da morte, que nunca mais conte sobre nada. A única habilidade que tenho, o único desejo que me motiva, é contar as utopias. Se nem isso posso mais, que me deixem como estiver, queimem e afoguem o que tiver de ser. Eu já não sou mais: nem animal e muito menos, racional.



>>Escuta: Tears and Rain - James Blunt

14 de julho de 2007

Abre - Olhos

>>Escuta: Wake up Alone - Amy Wine House
















Não é por achar o mundo errado
Não é por discordar das coisas serem do jeito que são
Mas é por saber
Que tudo o que mereço
Não receberei em vida
Nunca sentirei o que mereço

É por saber que os bons morrem cedo
(O que é muito bom
Eu bem sei)
É por ter a consciência de que sou mais um gênio da miséria
E que se for para ser alguém
Serei um cadáver com medalhas

Mas o difícil é me convencer
Todos os dias
Que devo viver
Devo viver para morrer
E devo morrer para ser
Alguém a que as pessoas respeitam
E ainda mais
Alguém a fazer a diferença

Talvez eu esteja embriagada de filmes
E vivo um
Talvez esteja debulhada em livros
E seja um
Mas zero, por cento de alguma coisa
É porque serei
A verdadeira Inês de Castro

22 de maio de 2007

Todas as cores são marrons

Há vezes em que acordo e vejo meu corpo ainda estirado à cama. Parece-me que morri sozinha, quando noto no segundo seguinte que uma multidão transborda de mim: eu sou tudo e nem sabia.
Estou além de minha auto-compreensão, além de tudo o que vejo e quase sinto sabendo que nunca senti. Mas ainda assim vivo das sensações que nunca senti, nunca hei de tocá-las, e mesmo desse jeito vou degustando uma-a-uma. Dor é querer crer no presente e este erro juro não cometer, como quem jura se matar na segunda-feira bem cedo. Se fosse fácil escolher viver todos os dias, eu nunca acordaria. A felicidade está na dor do ter de sobreviver por fraqueza paradoxal. E a mentira está em crer que só um time ganha e que Deus te escolheu em meu lugar. Juro te perdoar se você partir, pois se ficar juro-te também me vingar por dentro.
Se flor não pode ser verde, amarela, roxa e lilás de uma vez só eu também não preciso ser e nem querer. Por que procura todas as cores em mim? Eu só posso te dar um preto e branco fora de foco e contexto. Um montão de conhecimentos pequeninos porque boa em nada sou: também não sou boa em amar. Meu amor é sem foco e objetivo, meu amor é disperso e tem vida própria, não é meu: eu que me apropriei de tal.
Se eu te disser uma coisa, promete não contar? Promete ser só de mim pra você? É que um dia desses vi um pedaço de terra descoberto. Sem nenhuma plantinha a ocupar. Aquele marrom todo descoberto. Pensei comigo: está ai, marrom, cor de terra virgem que ninguém gosta e só é associado com aquela outra coisa que excretamos. O marrom merecia mais respeito. Nunca conheci alguém que gostasse de marrom: por que ninguém gosta de marrom mais do que de outras cores? ...acho que a única cor que reflito é marrom. Percebi agora. E olho fixa à minha pele. É verdade, sou marrom e nunca havia notado. Sou marrom e nunca tinha contado a ninguém; sou marrou e nunca me pintei marrom; sou marrom e nunca me vangloriei por isso; sou marrom e vivi uma vida inteira tentando ter todas as cores, menos marrom. Talvez tenha sido isso que tenha me tornado marrom. Vai saber. Engraçado, agora pensando assim sobre o marrom... O animal que mais gosto é cavalo e a maior parte deles (pelo menos é o que eu acho) são marrons. Acho que no fundo sempre me identifiquei com eles e nem sabia que era pela cor. Agora que sei que tenho a cor do animal que mais gosto, farei questão de me lembrar todos os dias desse fato. Mas não diga isso a mais ninguém, às vezes podem achar estranho. E de críticas estranhas já estou bem arranjada.

- Pode-me trazer mais um café Elis? Eu aceito de bom grado.

13 de março de 2007

P&B

Preto e Branco

Era ela e o resto. O resto: um vagão cheio do metrô no sentido Corinthians-Itaquera já tarde da noite. Ela: uma moça bonita, bem vestidos de cabelos pretos, curtos e presos posta a chorar. O resto: amigas conversando, criança chorando, homens falando de futebol, gente séria lendo ou só querendo parecer má. Ela: um ser humano que chorava sem que o resto a notasse e isso lhe doía mais.
Ela poderia chorar por tantas coisas, por que chorava a moça? Seria uma morte? Ou seria então o tema mais aparente: o rompimento de um relacionamento? Havia momentos em que ela cansava de chorar e tentava se refazer. Passados nem dois minutos se punha novamente aos prantos. Chorava sem escândalo, sem caretas, apensas as lágrimas saiam e os olhos ficavam mais avermelhados e a cabeça se abaixava. Após duas ou três estações depois da Sé um rapaz sentado próximo tirou de dentro da mochila uma Bíblia e lhe entregou. Ela logo de cara recusou e ele insistiu alegando que a moça precisava mais e faria melhor uso dos escritos que ele. Ela após alguns sorrisos tímidos e agradecimentos com culpa, abriu o livro logo que o rapaz se foi. Abriu em qualquer página. Logo começou a ler e chorar de novo, mais e mais. Não se sabe o que lia não se sabe por que chorava sem desespero e sem fim. Não se sabe por que chorou mais ainda ao ler aquelas palavras.
Logo chegava ao seu destino. A moça guarda o novo presente, se levanta e parte na estação Tatuapé. Vira mais um resto. Não há mais destaque. O resto permaneceu resto. Com remelas, espirros, risadas altas, conversas indecentes e gente má.

27 de fevereiro de 2007

Vai uns picos?

>>Escuta: Lígia - Tom Jobim
>>Pensa: Vacinas sucks
>>Sente: Picadinhassss
>>Sonho do dia: Ser a Bela Adormecida


Oba, vamos tomar vacinas. Eu sabia que até onde lembrava de minha pequena existência nunca havia tomado vacinas e suspeitava quando minha mãe dizia que sim. Hoje soube o porquê. A última vez havia tomado uma vacina foi em 91, eu tinha dois anos. Sem contar que das oito vacinas que se toma até um ano de idade eu só havia tomado três. Boa média, não?
Então lá vou eu em direção ao posto de saúde que fica a um quarteirão de minha casa cuja todas as pessoas que trabalham lá me conhecem desde que eu não tomo vacinas.
A médica ficou impressionada de como eu ainda possa estar viva, poderia já ter morrido de tétano ou algo do tipo. Ela só sabia dizer: Essa não é uma carteirinha de vacinação comum, não é. Segundo ela nunca tinha visto algo tão vazio. A frase mais cômica foi: Vou dar a da Hepatite B, é muito importante, por causa da transmissão sexual. (Pff..)
Ta e lá fui eu. Duas no braço direito e outra no braço esquerdo. Não que doa, porque de fato é só uma picadinha que nem incomoda muito, mas agora, o pós vacina é chato. Essa droga arde, sabiam? Arde mesmo. E daqui um mês eu volto.


Aventuras radicais! Uhullll

12 de fevereiro de 2007

Uuuu...

>>Escuta: Diana Krall - várias músicas de Ray Charles interpretadas por ela
>>Pensa: Odeio espinhas
>>Sente: Espinhas?
>>Sonho do dia: Não ter espinhas nunca mais!


Cry, Cry, Cry

Com cautela, olha fragilizada o céu. Quando criança sua inocência era de mulher. E agora que já é quase uma, sua inocência é de criança que ainda mama e é dependente. E ela tenta crer no futuro, mas ele ainda não se fez. Logo, tenta se manter no presente, que insiste em fugir. E como tijolinhos cruzados e com desenhos detalhados seus segundos vão sendo traçados. Nada apareceu de novo. Nada se criou. Nada descobriu. E ela foi se descobrindo com o vento que vinha. Nada era voluntário. Agora já tinha um pouco mais de toque nos dedos e unhas feitas. Mas ainda era com ansiedade que esperava a vida se tornar vida. Ainda era com desprezo que contava seu nome. Como já nada mais esperava tudo se tornava diferentemente do antes. Era feito música enlaçada que ela olhava, e disfarçava: como pianista inventor.
Tocava em cada objeto como instrumento novo: como se a cada toque saísse uma nota nunca antes ouvida. E assim ela se fazia sozinha. Como em uma melodia sem fim e contínua, sua anti-vida seguia.
Debruçou-se na janela. Viu a nuvem negra e carregada aproximar-se do Sol radiante. E viu que em um instante tudo poderia mudar: o vento era forte. Havia pedaçinhos do céu livres onde só se via o azul do bebê que nunca teria. Então era ela: nua na janela e sem nada para prever. Sem previsões de tempo bom ou ruim. De suas mãos saiu um leve suor que fez deslizar um pouco: logo o vento secou e lhe arrancou mais um pedaço que lhe cobria. Sentiu o cheiro do cachorro que nunca vira, mas que sabia que existia na casa ao lado. O imaginou: tamanho médio, fora de forma, cansado, pêlos grossos e lisos e embaraçados; sujo, muito sujo.
Logo após ter feito o retrato do cão em mente pensou em como gostava de errar e de como não gostava de quando não a deixavam errar. E principalmente se fizessem de forma brusca. – Oras como iria se descobrir assim? Logo, era só ela, seus pensamentos desconexos, vento, nuvens negras, sol radiante e um cachorro sujo. Essa era a paisagem de seu presente. E como construir a paisagem do seu futuro sem elementos? Ela até poderia criar em mente mil sensações: todas passageiras. Não era do que precisava ou gostaria. Precisava de visões concretas. Não poderia viver seu futuro, por mais que o imaginasse, não iria vivê-lo. Tudo se fez real no mento dessa breve percepção. Mas logo a sensação de sossego passou: outra pergunta lhe veio – Quando iniciaria o futuro? Oras, já era pensar de mais. Já eram graves essas questões medíocres. Cansara-se de mais naqueles instantes inertes. Apenas amoleceu o corpo que foi caindo suavemente sobre a cama. E lá, adormeceu, sem que notasse que o futuro se fazia presente.

11 de fevereiro de 2007

Deixa vir a moça

>>Escuta: Morena - Los Hermanos
>>Pensa: Coisas, cosias, coisas...
>>Sente: Boca machucada pelo aparelho fixo
>>Sonho do dia: Fazer 17


Aos 18

18 coisas para pensar e sorrir
18 assuntos para se refletir
18 fatos para não esquecer
18 motivos para viver
18 amores para lamentar
18 confissões para perturbar
18 problemas para se solucionar
18 amizades para se preocupar
18 mentiras para desvendar
18 dores para cobrir
18 angustias para sofrer
18 causas para ganhar
18 refeições para degustar
18 aromas para sorrir
18 escritores para seguir
18 filosofias para questionar
18 olhares para entender
18 nadas para viver.

10 de fevereiro de 2007

+ 1

>>Escuta: Os Pássaros - Los Hermanos
>>Pensa: Um segundo
>>Sente: Uma vida
>>Sonho do dia: Não usar aparelho


O caminho das formigas

Há formigas por tudo, por toda parte.
Há formigas no tapete
Na mesa, na sala de estar;
Formigas nos livros
Nos pratos e dicionários
Elas andam,
Fazem seu rastro para que outras saibam
Que por ali essas patinaram
Há formigas nas camas,
Por entre os lençóis
E as paredes infiltradas.

Fui às observando na escrivaninha
Olhei escondida todo o seu trabalho:
Árduo e doloroso.
Vi sua força e seus métodos
Fiquei senssacionalizada
E perplexa
Cada uma delas, tão organizada
E claro, objetivas
Formigas são sábias
Principalmente as que estão
No meu achocolatado



*Neste poema há neologismo

8 de fevereiro de 2007

A Maldição... que nem é tão maldita assim

Ok, Rafael.
Eu não tenho manias ou vícios (até onde sei, ou me lembre) e nem bilhetes na geladeira. Logo, só me resta dizer as coisas favoritas que por sinal são realmente muitas ao contrario do que muitos possam imaginar.
- Ouvir música
- Cantar
- Escrever
- Jogar papo fora com os amigos
- Comer chocolates

Sem muito que explicar. É, foi simples!
E claro, não está na ordem porque eu seria incapaz de classificar.

Como sempre por ser muito boa ninguém precisa fazer o mesmo.

3 de fevereiro de 2007

One more time

>>Escuta: Here Go Again - Ray Charles and Norah Jones
>>Pensa: Preciso ler mais
>>Sente: Coçeira no braço direito
>>Sonho do dia: Pintar


Não são uma, nem duas, nem três, nem dez. É mais de mil, talvez um milhão de coisas que não compreendo. Algumas não me perturbam, já outras tento decifrar, muitas vezes sabendo que provavelmente nunca obtenha laudo satisfatório.
Não compreendo o porquê do mundo, e isso não ligo. Não compreendo o porquê da vida, isso também já não me importa mais. Não entendo o porquê da maldade, do desamor e da falta de sinceridade. E isso sim me incomoda. Talvez me incomode por saber que não sou eu quem vai “arrumar” essas coisas; ou talvez porque eu sei, no fundo da minha pseudo-sabedoria, que deve ser assim por motivo nenhum. Passei a desprezar os motivos pelo qual a vida se torna ela. Passei a viver pela vida, já que ela não vai ser feita só. Vi que maldição todos tem e são aprisionados por suas mentes que não chegam a ponto algum: Que não foge do que vemos. Notei sentindo no tecido que cobre meus esqueletos que provavelmente não precisamos de um por que, ou um motivo maior.
Andei pensando que precisamos de coisas para gostar e desgostar, para que possamos escolher e fazer com que esse peso de viver se torne mais leve. Não me importa mais a vida, ou a morte. Não importa mais coisas que vejo de superfície. Só me importa o fazer, o ser, o estar. Só me resta fazer o que achar melhor em cada momento sem se esquecer do passado. Que o futuro não existe. Que ninguém além de você mesmo vai lembrar do passado ou dar valor a ele. E que todos somos perfeitamente normais. E essa é a parte mais chata.
Existem uns que crêem em Deus, Deuses, coisas, energias, outras vidas, forças, mal, bem, verdade, mentira e Nada. Eu me encaixo na fileira do Nada. E nada tenho a dizer sobre isso. Porque isso é só isso e não tem do que se explicar.

1 de fevereiro de 2007

Oras, veja bem, meu Senhor

>>Escuta: Warrior - Matisyahu
>>Pensa: O Rafael Magalhães me cansa!
>>Sente: Cansada?
>>Sonho do dia: Praia. É, ainda não saí dessa


Não a esperava quando apareceu. Era ela toda molhada e ácida. Era meu pranto de mil anos. Era ela: chuva. Que sozinha já era arte bela, mas com o mundo a lhe enfeitar ficava ainda mais completa. Naquele dia não era a primeira vez que caíra. Assim também não era a primeira vez que me acordara antes que dormisse. Mesmo com minhas dores de ouvido pude apreciá-la. Lembro-me agora com susto de todas as nossas aventuras.
Da vez que a senti quando voltara da escola. Em uma das raras vezes que voltara por conta própria. Eu sorria e tentava beber daquela água divina que caía tão espalhada. De como ficara iluminada de tocá-la. Me olhavam na rua que eu fazia questão de andar bem no meio. Admiravam-me, mesmo sendo garotinha que eu ainda era. Não sei bem ao certo quantos anos já completara, mas devia ser por volta dos 12 ou 13.
E como qualquer ser humano que se preze tem minhas histórias de chuva em conjunto. Dessa vez estara na escola. O sinal já havia sido tocado para que saíssemos. Estara muito calor, quente mesmo. Já era horário de verão, apesar desse ainda não vigorar: o verão. Então ela entra em cena. A bela chuva. Meio quente também, escassa, mas muito graciosa. Era nossa famosa chuva de verão: rápida. Caiu e molhou não só a mim, mas também minhas amigas. Estonteamos-nos nas águas da chuva breve, que traz tantas felicidades e histórias.



29 de janeiro de 2007

200

>>Escuta: Hawaii Aloha - The Strokes
>>Pensa: Ainda bem que existe o Koelho que também gosta de Strokes
>>Sente: Dores na coluna
>>Sonho do dia: Praia :D


Preciso e tenho tanto a dizer,
no em tanto não sei bem o que tenho tanto a dizer. Ainda não me descobri por
completo. Vou me descobrindo por partes e membros. Como bicho que nunca se viu antes. Vou me descobrindo curiosa porque nunca vi nenhuma parte antes e não entendo de onde elas vieram. Nunca ouvi falar de algo assim: nunca visto.
Sinto-me sujamente pura. Um puro tão perturbador que muitas vezes tira meu sono leve e tão necessário. Quero dizer com intenção alguma: Não há motivos concretos para esse meu desespero. De certa forma até há, mas não parece tão intenso. Ah, como sou fraca. Até pareço gato recém nascido, que ainda está tonto do parto. Fico algumas horas em silêncio para ver se me descubro assim. E continuo a ver Nada. Fico tentando desvendar de forma trágica e estúpida meus amados seres vivos. Não sei bem dizer se é coisa terrena o que vejo ou apenas
interplanetária. Fui criada para ser moça recatada, mas parece que a receita deu o oposto. Criei minhas próprias vertigens, meus próprios bloqueios e medos.
Minhas felicidades, verdades e sensações. Nunca fui dona de mim. Assim como
ainda não sei em que ponto exato existo. Ainda não me descobri. Apenas estão
descobertas as mãos. E é de onde vêm todas essas sensações: das mãos. Mais
nenhuma outra parte de meu corpo fora de forma foi descoberto. As pontas dos
dedos dos pés começam a querer sair, mas os pressiono para que voltem ao calor. O que tenho a dizer é um pouco mais do que as pessoas costumam ouvir e isso me dá calafrios. Porque quando os seres (esses que convivo) não estão acostumados
com algo... Oh, Deus, que coisa horrível que é. Eles quase apedrejam. Parece que não gostam do novo, mas parece que gostam menos ainda do estranho ou atípico. Quantas pessoas ainda ficarão para trás graças a esse desprezo? Quantas pessoas a mais terei de provar para reforçar meus erros? Se erro é porque não sei acertar e nem o caminho do certo.
É, eu vi ao longe. Vi umas luzes, umas pessoas querendo ser o que não são convictas de que são. Vi música alta. Porque ao contrario do que muita gente pensa, música é vista. Música é vista, ouvida, sentida, tocada e tudo o que você possa incluir. Vi tantas bobagens e vivi besteiras sem fim e nem ponto de partida. Fui tão malcriada quando criança que até parece deboche dizer essas coisas depois de grande.

Quando ela continua a analisar seus defeitos de fábrica, ou ainda quando analisa seu manto é com boa intenção, pena não ter consciência de como isso a machuca. A auto-análise de Regina ia além de si. A matava por dentro todas as vezes que a fazia. No fundo talvez soubesse disso e por isso a fazia. A cada sonho fracassado derramava tantas lágrimas que poderiam inundar o Sertão de qualquer lugar. Se ela soubesse disso com certeza as teria usado. O peito dela doía, doía, doía.Nossa como doía. Doía porque seu coração era latente, latejante. Seu coração era muito maior do que o comum. Isso a trouxe problemas desde muito cedo. Mas ela não soube disso desde cedo. Foi saber de seu caso quando já tinha seus 45 anos e muitos calos nos dedos. Descobriu junto que essa doença era raríssima. Foi então que não parava mais de pensar: então, enfim, por que eu teria uma coisa rara dessas? Justo ela. - Parece que nunca queremos nada para nós. Mas ela não. Quando notou que se não fosse ela então outro a teria parou de resmungar. Preferiu sofrer ela, só ela, sozinha do que ter de passar essa dor a outro alguém. E isso pode ser interpretado sem mais nem menos. Porque isso não requer segundas interpretações, é apenas isso e só. Sua dor era só essa e só.

Ah, como Regina me cansava. Regina me esgotava, era completamente insaciável. Muito mais insaciável que uma criança de sete anos em pleno clímax de seu ser. Regina tinha dentro de si várias crianças de sete anos e mais um monte de outros garotos de 17: prontos para dar o bote. Mas ela, Regina, nunca
dava bote. Mas estava sempre prestes a da-lo. Era algo raro vê-la se expor pelas ruas. Suas risada era calculada. Só exagerava em ambientes fechados e dos quais obtinha conhecimento. Mas sempre, sempre sorriso moderado. Não tinha nada a ver
comigo. Eu um rapaz quase homem, mas que nunca o seria. Regina sabia, ela sabia bem disso. Tanto sabia que me ignorava, tratava-me mal. Não mal ao ponto de me ofender, mas mal ao ponto de depois emendar uma de suas risadas quase que sarcásticas de tão econômicas. Regina se aproveitava de seu saber sem querer fazer mal, se aproveitava por inércia. Quando via já estava lá ela, jogada em sua propriedade de manipulação.
O gesto mais doce que presenciei de Regina foi um certo olhar. Olhar esse dado da última vez que a vi. Fomos nós e mais uns amigos antigos e apagados do colégio a um parque. Um desses parques grandes de São Paulo que a gente até se perde lá dentro. Bem, estávamos lá todos. Passamos o dia rindo, conversando, andamos de bicicleta. Regina sorriu muito aquele dia. Já era fim de tarde e eu bem sabia a paixão de Regina por fim de tarde e fotos – e eu sempre quis agradá-la, então levei minha máquina semi-profissional e a saquei no momento exato em que o Sol prova a Terra. Ela já havia notado meu movimento arisco desde o principio e foi sorrindo lentamente como criança que presente que irá ganhar um doce. Foi à única vez que a vi abrir um ângulo a mais em seu sorriso e isso ocorreu quando notou que era a tal máquina de tirar retrato. Tiramos alguns. Mas no fim, restava apenas uma foto para ser tirada. Ela, que sabia bem que com ela eu não podia. Olhou-me do pescoço para baixo e disse bem calma em tom moderado: o último retrato deveria ser meu, você não tem nenhum somente meu... E claro, como eu todos sabiam, eu era fraco. Ela se afastou de mim lentamente foi pisando na grama com seus pés macios sentindo cada milímetro de terra que vazava da grama. Ficou ali, em pé, no meio do descampado, com seu vestido leve de algodão caído sobre seu corpo íngreme. Estava ela lá, perto de um logo, ou lagoa, nunca descobri a diferença entre os dois. – Vá, tire o retrato, estou pronta. Foi nesse momento. Nesse segundo que ela olhou para
câmera. Foi à coisa mais doce que vi Regina fazer. Que olhar doce, quanta
falsidade de Regina. Ficou marcado no retrato seu olhar doce que nunca antes
havia lhe possuído. Como Regina era infame e me estonteava. Mas mulher de fato ela nunca foi e sabia, mas o saber dela era tão forte e destemido que temia
dizer-lhe que ela não era mulher, nem aos seus 25 anos. Já ela, abusava e se
lambuzava nas chacotas que me fazia, ela não tinha pena nem dó. Parecia insensível. Mas qualquer um que conversasse com ela por mais de dez minutos
descobria: era um recém nascido pedindo leite de qualquer tipo, só queria algo
para chamar de mãe. Ainda não entendo o que me prendeu tanto a Regina. Ela
nada tinha. Não era a mais bela e nem a mais inteligente da turma de história,
era péssima em datas. Ela também não era charmosa, pelo contrario, era tão seca, mas aparentava transbordar. Ela era puro falsete. Era a mais pura negação de existência ou condição para que tal existisse. Não há muito a que dizer sobre
ela. Era apenas Regina, um recém nascido preso no corpo de uma menina-mulher que parecia forte. Certa vez ela me disse: tudo o que parece é e tudo o que for só aparenta ser. Nunca entendi o que ela quis dizer exatamente. Acho que isso saiu de mais uma de suas auto-analises. Isso agora não importa. Regina que fique
enterrada no passado que insisto em reviver. Já que vida não me vem e vivo de
restos dos corpos que por mim passaram sem deixar rastro de volta. Vou andando como mendigo novo: completamente sem rumo e perdido. Não faz diferença entre ser e pertencer. Afinal, nada modifica o percurso final.

17 de janeiro de 2007

Justo

>>Escuta: Condicional - Los Hermanos
>>Pensa: Sabe-se lá
>>Sente: Pluma
>>Sonho do dia: Ficar olhando o céu


...E então é assim que continua. Faz mistério e procura dentro de ti tuas vontades e forças ocultas. Faz de mim nada além de mim. Falo sério quando digo que estou cansada, por tudo que vi e pelo o que sinto que virá. Estou bem no meio do caminho, disso bem sei. E quando digo meio do caminho, sinto isso porque me veio uma breve calmaria e sei que o pior vem agora: como um clímax. Sinto minha fé se propagando feito música boa: de forma lenta, mas definitiva. Vejo as pessoas cada vez mais distantes e isso é prova. Prova de fim de semestre, que avalia a força. Começa assim então um novo ciclo e uma nova metade. Essa por sua vez mais difícil e rígida. Tenho de ser mais rígida também, seguir as regras que não criei, mas vou aceitar, pois é assim ou sem sim eu fico no fim.
Avaliei todas as possibilidades de um escape. Mas moleza não há, fico para enfrentar. No fim talvez seja recompensada, mas isso eu não espero, porque quando o fim chegar já estarei calma, já não mais me afetará essas coisas que doem tanto. Fui catando pelas ruas uns palpites, só me disseram bobagens, só me mandaram pro desmanche. Não faço muita questão que gostem, nem sei se eu gosto, talvez só esteja me enganado pra depois ter desculpa.
Ah, quantas desculpas já arranjei pra mim e pro mundo. Quantas mentiras criei e fiz delas verdades para viver e vivo com elas dentro de mim. Faço das mentiras verdades para assim ficar mais forte. Antes de aprender que qualquer mentira pode ser verdade quando se crê de nela eu já fazia isso. Deve ser extinto de sobrevivência exclusivamente humano. Humano que mente. Já viu bicho mentira? Bicho é real, bicho sim sabe das coisas por não saber de nada, só faz e pronto. Não avalia. Alguns não enxergam, outros não ouvem, uns tem bico outros tem patas e mesmo assim nenhum olha mal pro outro. Bicho sim é humano. Porque se humano quer dizer “bom”, bicho é humano. E o dito humano é um bicho, se bicho quer dizer “burro”. Foi assim que aprendi. Não com alguém, mas sim pelo viver que esse ninguém me deu, simplesmente foi criado, sem mais nem menos. Tu vives, e sabe por quê? Não há. Ah, nem pense nisso, te juro que é injusto pensar nisso, como é injusto desgostar. E como é injusto crer no que tu não gostas.
Pronto. Já fiquei tonta. Uma das minhas doenças é essa. Ficar tonta à toa, quem quis assim? Ninguém: sou assim e pronto. Tenho isso por doença que começa sabe-se lá como e nunca termina, isso foi o que me disseram. Mas acho que se começa sem porquê deve terminar sem avisar, ou nunca termina mesmo, sei lá. Deixa ela, já faz parte de mim, absorvi e a acolhi como boa acolhedora que sou. Pensar te dói? Pensar me dói. Dói-me porque não pára e eu me canso de tanto pensar, me perturba isso antes de dormir. Faz com que doa o viver. E eu que nunca pedi vida e a mim ela foi dada me traz dor. Ah, isso sim também é injusto. Dor assim é ruim. Viver assim se torna ruim e mais intenso. Ser assim é mais real e injusto. Sabe, acho que não gosto da justiça.

10 de janeiro de 2007

Vai lá!

Ah, relaxa. Pra que tanto pensar? Afinal no fim do dia todos esquecem o que passou. Tentei tantas vezes explicar, que no fim tudo fica sem saber se encaixar. Não tem porque me preocupar, no fim tudo vira mar e na maré tudo vira nada. Ahhh esquece tudo. Deixa pra lá, fica tudo de lado. Chuta o balde e se embebede na água. Esqueço do presente e passo o fim do dia lendo um livro.
- Ah, sei lá. “Deixa Estar”.