20 de abril de 2005

Só um bando de besteiras mal pontuadas



E dizem que isso é viver. Dizem que esse melodrama diário com doses massivas de analgésicos é viver. Dizem que sou louca. Para vivermos sabiamente precisamos de lembretes diários para não nos esquecer que somos a natureza, que somos o tempo ao avesso, que somos tudo isso que acreditamos ser, e que na verdade não somo nada. Não passamos de lembranças alheiras. Não passamos de uns ossos, carne, sangue e um amontoado de órgãos. O que poucos sabem é que isso não é nós. Nós somos tudo isso que pensamos, que queremos, somos a mente, a mente que age. Somos ações. Somos um bocado de ações e reações mal ligadas.
Somos puro suspiro. Porque a vida é frágil e incerta. Ela não é correta, não é infinita. A vida é o que deixamos, o que fazemos, o que pensamos e propusemos.
O amor também dói. Também é ódio. O ódio é uma forma de amar escondido, é uma forma de se preocupar. Um dia disse que odiava, disse que odiava porque era incapaz de dizer que amava, então disse que odiava.
E tudo isso, o que é?
O que é tudo o que escrevo? Tudo, não passa do mais puro nada simbológico, da mais pura incerteza de ser compreendido e respeitado. Minha inspiração é turbulenta como as águas que correm para sua afluente, em busca de conformo, de abrigo, de sucesso... Temos que ser mais, existir mais!
Eu tenho que fazer mais, lutar mais, brigar mais, gritar mais!
O que tenho é só uma perna engessada, é só um pé torcido e um cabelo desbotado. O que tenho dessa vida e o que levo dela? Se todo mundo pensasse...
Tem muita gente por aí que gosta de ler. Lê qualquer coisa, conhecimento?
Negativo. Eu leio o que quero, quando quero e quando quiser. Eu falo o que quero, quando quero e se quiser dizer algo que ache que de fato pode vir a fazer alguma diferença ou reação, a não ser que o que queira dizer não tenha nenhuma conotação. Não gosto de político que fala “difícil”, só quer confundir o povo. Eu falo as palavras que podem ser mais bem entendidas, sejam elas simples ou complexas, afinal de contas qual a diferença entre elas?
As pessoas dormem, é inevitável, é inevitável sonhar, seria então a resposta para o entendimento dos seres, sonhar? Apenas sonhar, concretizar sonhos, sonhos, porque todos são possíveis e impossíveis, só cabe a nós decidir o destino de tais.
Uma vez, disseram que eu ouço demais, que eu tenho uma capacidade mais que normal de ouvir. Ouço o que falam comigo, o que falam com o vizinho, o que falam com o padeiro e tudo ao mesmo tempo. Ouço por três, quatro, cinco ou um. Ouço tudo o que consigo ouvir, organizo tudo em minhas idéias, na minha mente, guardo tudo como ouro bruto, depois quando preciso, lapido o ouro para que possa viver, agir, fazer o sonho se tornar real se assim for desejado.
É que nem mentir, todo mundo mente, mentiu, vai mentir, não tem como, nem quando, nem onde. Mentir faz parte de toda a vida, da esfera terrestre, do sangue. Os animais irracionais também mentem quando lhe é conveniente, mas são muito mais verdadeiros do que os homens que os castram e os domesticam. Tudo isso é covardia! Covardia é medo, que nem aquele medo de dizer que ama e diz que odeia, que nem o medo de viver, agir, concretizar sonhos. Temos medo de ver ou sentir a verdade, porque na maioria das vezes não sabemos se será mesmo dessa vez que descobriremos a verdade, por que o que é verdade? Pode ser a verdade do sonho, a verdade da mentira, a verdade da covardia, a verdade do amor, a verdade do ódio, a verdade do louco, quantas faces tem a verdade? Será a verdade é a mais falsa de todas as mentiras? Porque se tens tantas faces não há de se estranhar tal questionamento. Ou será apenas um direito de escolhermos entre todas essas verdades e faces a nossa verdade, a nossa face?
Verdade, vida, ódio, amor, mentira, ação, mente, carne, ossos, tempo...
O que é tudo isso?

17 de abril de 2005

Eu & eu

Um pouco mais de 16, um pouco mais de gordura, de hipocrisia e medo. Muito mais conto e menos magia. Não conseguiria contar nos dedos quantas pessoas ou amigos me “trairão”, não conseguiria chorar ao lembrar de tudo, foram tão baixos e insignificantes. E todas as besteiras que fiz, foram tantas, tantas vezes menti pra mim ao pensar que era fácil viver. Que o mundo sempre estaria ao meu dispor. Até que um dia eu acordei, acordei e percebi que perdi muito tempo e tempo, tempo não volta, tempo não te retorna. Houve vezes que pensei que nunca mais conseguiria olhar pra mim de frente. Pensei que havia sido tão fraca que não merecia segunda chance, não merecia acordar e ser contemplada por esse Sol que nunca se exausta. Lembro-me das convicções, dos sonhos idiotas e egocêntricos, das lamentações que costumava fazer e não sei como me aturaram.
Às vezes acho que fizeram um estupro mental comigo. Afinal, foram de fato selvagens e impiedosos e eu ingênua demais ao acreditar que poderia salvar aqueles animais que por sua vez não eram irracionais. Por quantas e quantas vezes pensei em fazer coisas que eu nem sabia como faze-las. Deturpei-me para os outros. Era-se incapaz de ver a verdade em mim, no meu olhar só havia... Vazio. Era oco. Pensava ver coisas que não era, pensava conseguir coisas que não queria conseguir de fato. Não era Eu!
Não esse Eu que agora sei que é meu, que é o meu Eu verdadeiro. Antes gostava do preto, acho que me identificava com ele, porque tudo pra mim era escuro, não via. Não via onde estava nem pra onde ia. Agora tudo é branco, é branco porque é claro que sou Eu, é branco porque agora é verdade, não é mais uma deturpação, sou limpida e clara.
Agora o que resta é puro Eu.