13 de março de 2007

P&B

Preto e Branco

Era ela e o resto. O resto: um vagão cheio do metrô no sentido Corinthians-Itaquera já tarde da noite. Ela: uma moça bonita, bem vestidos de cabelos pretos, curtos e presos posta a chorar. O resto: amigas conversando, criança chorando, homens falando de futebol, gente séria lendo ou só querendo parecer má. Ela: um ser humano que chorava sem que o resto a notasse e isso lhe doía mais.
Ela poderia chorar por tantas coisas, por que chorava a moça? Seria uma morte? Ou seria então o tema mais aparente: o rompimento de um relacionamento? Havia momentos em que ela cansava de chorar e tentava se refazer. Passados nem dois minutos se punha novamente aos prantos. Chorava sem escândalo, sem caretas, apensas as lágrimas saiam e os olhos ficavam mais avermelhados e a cabeça se abaixava. Após duas ou três estações depois da Sé um rapaz sentado próximo tirou de dentro da mochila uma Bíblia e lhe entregou. Ela logo de cara recusou e ele insistiu alegando que a moça precisava mais e faria melhor uso dos escritos que ele. Ela após alguns sorrisos tímidos e agradecimentos com culpa, abriu o livro logo que o rapaz se foi. Abriu em qualquer página. Logo começou a ler e chorar de novo, mais e mais. Não se sabe o que lia não se sabe por que chorava sem desespero e sem fim. Não se sabe por que chorou mais ainda ao ler aquelas palavras.
Logo chegava ao seu destino. A moça guarda o novo presente, se levanta e parte na estação Tatuapé. Vira mais um resto. Não há mais destaque. O resto permaneceu resto. Com remelas, espirros, risadas altas, conversas indecentes e gente má.