22 de dezembro de 2006

No fim do infinito

De repente acordo e vejo. Percebo que outras pessoas habitam e
que as antigas já não mais existem. Abro os olhos e me assusto com
as novas faces que vejo. É como se não mais os conhecesse, como
se já ninguém mais existisse. Não é comum ou fácil perceber as
evoluções rápidas dos seres humanos. Eu fico sem entender o que
acontece mesmo sabendo o que ocorre.
A infância passou, seus pais brigam, seus primos quase não os vê e

as velhas amizades ficaram impressas já nas antigas fotos de papel.
Tudo ficou ultrapassado, de certa forma, até você. As coisas ficam
meio sem casa e abrigo, fica tudo meio perdido, meio estagnado.
Eu prisioneira de mim, faço de conta que tudo acabará em um breve
suspiro de adeus. Que nada iremos sentir e de que nada iremos lembrar.
São dessas coisas tolas que vivo. Vivo do pensar. Faço de o meu existir
um breve tentar. Um sopro fino e frio. Tento parecer fria e experiente.
Mentira feia. Só porque escrevo acho que posso domar o mundo.
Oras quem penso que sou? Não sou ninguém e nem deveria ser.
Faço silêncio para que não me percebam. Mas é desse exato modo
que mais sou notada. Para as pessoas apareço ao ficar calada com
minhas palavras. Não entendem bem que pessoas como eu, são assim
mesmo: mudas falsárias. Não perco muito tempo me explicando, deixe
pensem. Pensam tão pouco, deixem-nos com seus breves regurgitos de pensar.
Não gosto de luz ou coisa piscante. Ofusca meus olhos de menina-sem-querer

que sou. Acho que no fim das contas não sou boa com as palavras. Só as uso
de desuso, faço delas minhas escrevas. Uso-as para eu não ser usada e falo
que de delas gosto para parecer um pouco mais...
Não fiz as lições de casa e nem fiquei calada quando deveria. Nunca fui

de me calar, passei a fazer isso só depois de grande. Só depois de velha
fiquei malcriada e medrosa. Não era medrosa e nem puritana. Tornei-me i
sso tudo, fiz de tudo isso meu eu. E agora não existo mais sem esse todo.
Recriei-me depois de já feita moça.
A minha mania de perfeição faz com que eu mesma nunca a seja: a ninguém.

Faz com que eu seja sempre a imperfeita aos olhos alheios. Busco a minha
perfeição, quando deveria procurar a imperfeição dos outros em mim.
Tudo fica tão complexo quando passa por mim. Consigo transformar

tudo em transtorno mental. Faço com que as coisas tomem proporções
maiores. Deve ser para que eu possa me distrair. Fazer com que tudo
passe mais rápido e logo cheque meu fim.
Será mesmo o fim? Não sei, nada sei. Nada há.
Dizem-me alguns que sou vinda de costela de barro e que de nada sirvo.

Outros dizem que sirvo para afazeres domésticos e sexuais.
Outros se calam. Me calo junto. Mas quando dizem esses pensamentos,
grito alto: Não! Não me submeto. Respondia desde o colégio para as
professoras machistas. Não deixava por menos ou mais. Assim como
quando os garotos diziam que era feia eu dizia: Obrigado. – Sempre
fui muito educada! Aprendi sozinha a ironia na pele. Mas a bondade,
certamente, não sei de onde me veio. Minha bondade deve ser fruto
de tudo que passei e não quis. Por saber o quão ruim são as coisas
que tive e não tive não quis para mais ninguém. Talvez meu signo
que tenha determinado isso em mim, nem sei. Aprendi o português
errando e me corrigindo. Assim como aprendi a viver capotando.
Falando do amor e desamor que sinto e como acho que no fim tudo
vai acabar mal, mas eu queria que tivesse fim bonitinho que nem
Vinícius gostaria.
Acabo aqui, dizendo que amor me transborda e ultrapassa meu

ser fraco e frágil. Revolta é do tamanho do meu amor e por isso
ainda grito e gritarei sempre que puder e tiver algum instrumento.
- Que sejam feitas Vossas atitudes.

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