5 de dezembro de 2006

Se bem sei, nada sei

>>Escuta: I Remember You - Chixdiggit!
>>Pensa: não aguento mais usar aparelho
>>Sente: cabelos sujos quando limpos
>>Sonho do dia: Sei lá


Tudo faz o menor sentido. Não são as coisas que existem e sim o existir que faz das coisas serem o que são. E para eu poder escrever tenho que fazer um monte de outras coisas ridículas como o meu ser. Sentido não há. A escrita deveria ser livre - eu acreditava que fosse, mas não é. Para você poder escrever tem que saber química, física e matemática. Escrever com mais técnica do que alma. Imaginei o oposto, como fui tola. É preciso tantos detalhes, que eu, tão detalhista, logo eu, não notei. Mas que tola sou eu. Finjo não crer nas coisas que leio, finjo não ligar pra realidade que me massacra e passa por cima do meu eu. Calo-me. Como pseudo-escritora que sou, faço da minha breve vida um silêncio de palavras imaginárias que nunca se tornarão palavras. Não é tão fácil ou muito mais difícil do que imaginei. Isso dói. Perceber a ridícula realidade dói. Minhas pernas e tudo mais, não crêem no que sentem. Não sabem por que existem. Tento lhes convencer que no fim o bem vencerá. Elas sabem que minto: que bem? Meus membros são bem menos tolos que o meu cérebro inócuo. Não faz sentido. Deve ser por isso que ainda não seja escritora de fato, sou puro confete velho na rua no fim do carnaval. Já fui tão mastigada, catada e recuspida que não tem mais graça minhas falas. Parece que o mundo já veio pronto de fábrica. Parece-me que o fato é, de que o meu mundo não existiu ainda. Se existiu, passou há tempos, eu fiquei. Como quem fica pra ajudar a varrer as ruas sujas do carnaval do interior. Não faço sentido nem a uma velhinha surda e esclerosada. Mas certamente, essa me entenderia melhor do que qualquer outro ouvinte que tem em pleno funcionamento suas orelhas internas e externas. Faço-me de cega às vezes: é porque assim creio que não me vejam também. Pobre menina que sou. Creio não ser vista porque finjo não ver. Como se isso fosse fato. Sei que não é, mas faço. É essa minha garota meio inocente, meio ciente que faz isso. Ela ainda habita grande parte de mim. Não sou mulher ainda. Talvez ainda seja meio-a-meio. Talvez nada seja.

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