12 de outubro de 2008

Só se era Ela

E então o que seria da tua vida? O que seria dos teus dias se não fossem estes? O que seria de tua história? O que seria de ti?
Digo-lhe facilmente que não o mesmo. Talvez um médio fascista, tu serias. Talvez prostituta mal paga. Talvez pobre de espírito. Talvez mais um médio da classe média. Mas com certeza, não serias o que és.
Escrevo-te em 2008, e o que isso significa? O que eu te significo? Se quisesse lhe explicar, certamente não seria fazendo-lhe essas perguntas. Porque nada explica, nada te satisfaz.
Escrevo-te escondida, escondida de mim. Tenho medo de confessar que talvez ainda goste de ti. Tenho medo de admitir que talvez meu coração já pertença outro e este, jamais me agüente.
Escrevo-te, pois, não posso falar. A voz é profana. A voz trai os pensamentos, da entonação e emoções. E talvez, eu não sinta estas emoções. Talvez seja pedra, seja festa, seja pudica, seja leviana, seja fugas, se ninguém, eu.
Escrevo-te, a fim de que um dia nunca leias, e com sorte, nunca há de ler. Mas como pessoas com sorte nunca fui, você há de ler. Há de ler e ver emoções e interpretar. Há de ser mais profana minhas letras e mãos que minha voz. O mundo há de sumir. E eu, hei de “epidir”.
Não escrevo profanando palavras. Escrevo só pro achar interessante. Escrevo por simples caridade a mim. É que eu sou carente, e só tenho a mim. Quando escrevo é como se falasse comigo. Sendo assim: como falo!
Espero 2009, como quem espera a Arca de Noé. Espero que a vida possa acabar o mais breve possível, como forma de um me libertar. Sabe, meu corpo é pequeno para tanto eu. Meu corpo é solitário para tanto Eu. Silêncio.
Não me explique. Não te explique. Não me cobre ou dobre. Não grite comigo. Não brigue comigo. Olha pra mim. Isso, assim. Olhe-me com dó. Abrace-me como fosse o último abraço dado no mundo. Diga-me que a vida não melhora. Diga-me que me conforme. Ouve-me. Diz que não sei de nada. Diz que só erro. Diz que o mundo acaba antes que eu morra, pois, é isso que acredito. O mundo que acaba comigo.
Escrevo-te porque quero sair. Me leve para sair. Me leve para qualquer lugar. Qualquer lugar. Qualquer lugar. Lugar qualquer. Só quero ser algo que não seja eu. Tire-me de mim. Irei agradecer. Mas não me entenda mal. Não é que não goste de mim, é que sou má companhia, só isso.
- Te disse que não seria fácil.

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